Parece que, para os alemães, a Bulgária é o seu “Oeste selvagem”. A ser assim, percebe-se melhor o título deste filme de Valeska Grisebach, em que um grupo de operários alemães vai construir uma central hidroeléctrica numa zona remota da Bulgária, que confina com a Grécia.
E dado que os ditos operários encaram a empreitada como uma aventura em terra desconhecida, que há cavalos à solta pelos campos, que a região é idílica e (ainda) desconhecida do turismo de massas, e aqueles instalam-se no que pode ser visto como um forte em território hostil, o título ganha ainda mais em significado.
Western é um filme muito mais interessado na observação e descrição do tipo de relações que os operários e os locais estabelecem, do que em desenvolver um enredo à base de lugares-comuns sentimentais, de confrontação ou de estereotipação nacional e política, bem como de metáforas prontas-a-usar (a Europa rica, do poder e arrogante, representada pelos alemães, e a Europa pobre mas digna e genuína, pelos búlgaros).
Claro há fricções, ressentimentos e desconfianças entre operários e nativos, e gente cordata e menos agradável dos dois lados. Mas a realizadora nunca as usa para tecer uma trama narrativa previsível, e dribla a todo o pé de passada as nossas expectativas quanto à eventual manifestação dessa previsibilidade, nas personagens como nas situações.
O pivô de Western é um dos operários , Meinhard (interpretado por Meinhard Neumann, antigo feirante sem experiência dramática - tal como todo o elenco, aliás), um ex-legionário, lacónico, sem família e dotado de inteligência prática, que vai servir de ponte entre alemães e búlgaros.
Este não é um filme sobre choque de culturas ou mentalidades, mas sim sobre o esforço – nem sempre fácil – de entendimento, comunicação e convívio entre seres humanos. Que aqui calham ser todos europeus.
Por Eurico de Barros