É difícil encontrar um filme tão francês como este, o penúltimo de Olivier Assayas. As personagens falam pelos cotovelos, da primeira à última imagem, e quase exclusivamente de temas da actualidade com viés intelectual e cultural, desde a sobrevivência do livro na era digital à credibilidade dos políticos, passando pela popularidade das séries de televisão e dos e-books; passa-se em Paris, no mundo da edição e do livro, com incursões pelos da televisão e dos media; e praticamente todas as personagens estão a pôr os palitos aos respectivos maridos e mulheres, com a maior descontracção e sem estados de alma. Não contente com isto, Assayas transforma o quinteto de personagens principais em porta-vozes de diversos pontos de vista, fazendo de Vidas Duplas uma espécie de equivalente cinematográfico de um ensaio, ou um artigo de opinião, a várias vozes, com um fiozinho de enredo de ficção a segurar tudo.
Não fossem os actores (entre eles Juliette Binoche, Guillaume Canet e Vincent Macaigne), a qualidade da escrita de Assayas e a câmara lesta com que filma, e Vidas Duplas seria uma presunçosa, prolixa e insofrível francesice.