O título original deste filme de 1985 de Elem Klimov, passado na Bielorrússia durante a II Guerra Mundial (e que repõe agora em Portugal em cópia restaurada), era Matem Hitler. Foi, sem explicação, vetado pelos censores comunistas, e Klimov optou por ir buscar, algo convencionalmente, uma citação do Apocalipse de São João.
Vem e Vê é muitas vezes referido como sendo o melhor filme de guerra de sempre, mas é um manifesto exagero. Sem sairmos do cinema russo, há pelo menos dois títulos, também passados na II Guerra Mundial, muito superiores: A Infância de Ivan, de Andrei Tarkovsky (1962), e Ascensão, de Larissa Shepitko (1977), mulher de Elem Klimov, morta precocemente em 1979, num acidente de viação.
Baseado num livro de Ales Adamovich, que escreveu o argumento com o realizador, Vai e Vem é contado pelos olhos do jovem Flyora (Aleksei Kravchenko), que se junta à guerrilha contra o invasor alemão, e se rói de culpa pela execução de uma série de pessoas da sua aldeia, incluindo a sua família.
A primeira parte de Vem e Vê, em que a guerra surge quase sem inimigo visível, apenas de raspão, à distância ou pela presença de quem já lhe sofreu os efeitos, é muito boa. Depois, Klimov resvala para o registo de fita de “grande guerra patriótica”, com toda a sua grandiloquência hórrida, grotesco empolado e simbologia a martelo. Há mais cinema, terror e expressão no plano fugaz em que a jovem Glasha vê os cadáveres dos aldeãos fuzilados, ao monte contra a parede de uma casa, do que em toda a segunda, rebuscada e paroxística parte da fita.
Por Eurico de Barros