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Pittsburgh, anos 50. Troy Maxson (Denzel Washington) trabalha na recolha do lixo e vive com a mulher, Rose (Viola Davis) e o filho Cory (Jovan Adepo) num modesto bairro de subúrbio. Filho de um pai violento, Troy veio do campo para a cidade na juventude, andou a roubar, matou um homem durante um assalto e foi para a cadeia. Na prisão, descobriu o seu talento para o basebol, que começou a jogar, mas sem conseguir ter chegado à divisão profissional principal.
Troy acha que isso aconteceu por ser negro, mas na verdade foi por já não ter idade. E não quer que o filho vá jogar futebol americano, alegando que ele irá ser vítima de segregação racial, embora lá no fundo não queira que Cory possa vir a ter o sucesso no desporto que lhe escapou. Troy é um homem frustrado e amargurado, que trata o filho com duas pedras na mão. E não é mais afectuoso para o filho que teve antes deste, de uma outra mulher, que quer ser músico de jazz e visita o pai de vez em quando para lhe pedir dinheiro emprestado. A única pessoa para quem Troy se mostra mais decente é o seu irmão Gabriel (Mykelti Williamson), que veio da guerra mentalmente debilitado.
É este o ambiente físico e humano de Vedações, a segunda longa-metragem realizada por Washington (a primeira foi Antwone Fisher, em 2002) e adaptada da peça homónima escrita por August Wilson em 1983, parte de um ciclo de dez, todas passadas em Pittsburgh.
Em 2010, Denzel Washington e Viola Davis interpretaram Vedações na Broadway, tendo ambos ganho um prémio Tony. Seis anos mais tarde, o actor conseguiu passá-la para o cinema, o que não tinha acontecido antes, porque Wilson, falecido em 2005, sempre disse que só daria autorização para isso se o filme fosse feito por um realizador negro.
O Denzel Washington que está por trás da câmara não nos consegue fazer esquecer por um momento que seja que Vedações é teatro filmado, por mais que o Denzel Washington que está à frente da câmara insista numa interpretação bombástica, toda ela a fazer sinalefas ao Óscar de Melhor Actor (para o qual está nomeado, aliás).
O texto de Wilson também não ajuda. Um crítico inglês chamou-lhe “Strindberg nas berças americanas”, mas na realidade, Vedações é Eugene O’Neill de trazer por casa, um repositório de alegorias fáceis (a começar pelas vedações do título, que além das reais, sobre as quais Troy tentava atirar a bola quando jogava basebol, representam as barreiras raciais e sociais existentes nos EUA na altura, bem como o muro emocional que se ergue entre Troy e os dois filhos), e de cansativas metáforas de basebol para as dificuldades e injustiças da vida, da condição racial, dos problemas sentimentais e da existência em família. Tudo isto vem entremeado de bravatas proferidas por Troy para ocultar a s cicatrizes deixadas pela sua infância desgraçada, as suas frustrações e deficiências de carácter.
O filme tem um final “poético” e piedoso, também ele penosa e chapadamente alegórico. Mas ao menos, Denzel Washington já se calou em definitivo uns bons 20 minutos antes.
Por Eurico de Barros