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Muito antes de ser um filme realizado por Tiago Guedes, Tristeza e Alegria na Vida das Girafas foi uma peça de teatro, escrita por Tiago Rodrigues e estreada em 2011, no ponto mais alto da crise económica que trouxe a Troika a Portugal.
Uma menina de dez anos (Maria Abreu), órfã de mãe, e a quem esta chamava Girafa, vive em Lisboa com o pai (Miguel Borges), um actor a quem o trabalho escasseia devido à crise e que está aflito com as despesas caseiras. A menina, que se expressa de forma muito pouco vulgar para uma criança da sua idade e gosta muito de aprender palavras novas, precisa de ver um programa sobre animais no canal Discovery para fazer um trabalho para a escola.
Só que a televisão está avariada e o pai, que não tem dinheiro para a mandar arranjar, finge que não tem vagar para tratar do problema e remete a reparação para uma data vagamente próxima.
Inconformada, Girafa pega em Judy Garland, o seu urso de peluche favorito (Tónan Quito) e parte em busca de alguém que a possa ajudar, ou de um lugar onde lhe dêem dinheiro para o arranjo da televisão.
Daí que Girafa e Judy Garland tentem assaltar um banco e que, finalmente, recorram ao primeiro-ministro, para que este passe a devida legislação.
No palco, o papel de Girafa era interpretado por uma adulta, Carla Galvão, enquanto que no filme temos a pequena Maria Abreu a substituí-la. Uma alteração que faz com que Tristeza e Alegria na Vida das Girafas passe a ter os mais jovens como público preferencial.
Logo aí o filme enfrenta um problema fundamental. É que o urso Judy Garland pragueja como um sargento de cavalaria do princípio ao fim, o que torna Tristeza e Alegria na Vida das Girafas infrequentável aos mais pequenos. Não há pai ou mãe que leve os seus filhos a ver uma fita, por mais relevante ou fofinha que seja, ou mais bem feita que esteja (e esta ainda por cima não está), em que uma das personagens principais passa o tempo a desfazer-se em palavrões de fazer corar um trolha.
Por outro lado, pelas suas características, a história tem poucos motivos de atracção para um público adulto, o que deixa o filme numa terra de ninguém em termos de espectadores a que possa apelar. Nem carne nem peixe, Tristeza e Alegria na Vida das Girafas é, enquanto cinema, um equívoco. Nunca devia ter saído do palco.
Por Eurico de Barros