[title]
Em 2009, dois anos antes de ganhar o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e se tornar mundialmente conhecido com Uma Separação, o iraniano Asghar Farhadi rodou About Elly, que lhe deu o Urso de Prata no Festival de Berlim, e cuja história tem a mesma estrutura de Todos Sabem, que Farhadi foi fazer a Espanha (para ele, há muitos pontos de contacto entre os iranianos e os espanhóis, sobretudo ao nível emocional).
Ambos os filmes assentam no misterioso desaparecimento de uma das personagens, impõem uma atmosfera de policial que no entanto não é a razão de ser da história, e nos dois o acontecimento central serve para que venham à tona segredos íntimos dos intervenientes.
Se em About Elly Asghar Farhadi queria interrogar especificamente a sociedade iraniana, em Todos Sabem o objectivo é bem mais amplo: falar da natureza humana. E quem está familiarizado com o cinema do realizador reconhecerá aqui vários dos seus interesses constantes: a família, e o casal, como actores e peões dramáticos privilegiados das histórias; o tema do segredo ocultado por uma ou mais personagens, e cuja revelação vem destruir as aparências e dar uma guinada na história; ou o gosto de observar e esmiuçar o desconcertante e imprevisível mecanismo de funcionamento das relações e dos conflitos humanos (não é por acaso que Todos Sabem abre com um plano do mecanismo do relógio de uma igreja).
Penélope Cruz é Laura, uma espanhola que vive na Argentina com o marido (Ricardo Darín) e os dois filhos, e que volta à vila natal com estes para assistir ao casamento de uma das irmãs. Ali reencontra o ex-namorado (Javier Bardem), agora também casado. O rapto, na noite da boda, da filha adolescente de Laura, põe família e amigos em desespero, faz vir à tona velhos rancores e remorsos, e recriminações feias, e desenterra segredos antigos.
A grande homogeneidade das interpretações (com um imperial Bardem à cabeça), a qualidade da escrita e a inflexível tensão dramática de Todos Sabem ajudam a ocultar alguma falta de concisão, e uma propensão demonstrativa a que Farhadi não consegue escapar neste azedo drama em família disfarçado de thriller.
Por Eurico de Barros