Lá diz a letra da célebre canção de Pete Seeger e Lee Hays, “If I had a hammer/I’d hammer in the morning/I’d hammer in the evening/All over this land”. E o Thor de Chris Hemsworth em Thor: Ragnarok, o novo título da série dedicada a este super-herói da Marvel, bem podia adoptá-la como hino, porque perde bem cedo o seu martelo mágico e anda o resto do filme a lamentar-lhe a falta. A realização deste terceiro Thor foi, surpreendentemente, entregue ao neozelandês Taika Waititi (O Que Fazemos nas Sombras, Hunt for the Wilderpeople), mais habituado às modestas andanças indie do que a lidar com grandes estúdios, orçamentos gargantuescos e bisarmas destas.
Vê-se que Waititi achou que os filmes de super-heróis andavam a levar-se muito a sério e era preciso algum alívio cómico no meio do choque, da destruição e da metralha de efeitos visuais em jacto contínuo, porque há alturas (e não são poucas) em que Thor: Ragnarok mais parece uma paródia da revista Mad a um filme da Marvel, tantas são as piadolas e tais os gags (o próprio Waititi, que também é actor, interpreta um monte de pedras alienígena e gozão chamado Korg).
O “Ragnarok” do título é o apocalipse da mitologia nórdica. E ele chega aqui pelas mãos da temível deusa da morte, Hela, irmã de Thor e Loki, interpretada por Cate Blanchett como o cruzamento de uma dominadora sadomasoquista com a feiticeira de A Bela Adormecida. Hela leva a que os irmãos se aliem para a derrotar, num enredo que desafia toda e qualquer lógica, volta a fazer gato-sapato da respeitável mitologia nórdica e mistura elementos e personagens da Marvel com Guerra das Estrelas e O Senhor dos Anéis em molho multicultural. Reservado aos devotos e zelotas da cangalhada dos super-heróis.
Por Eurico de Barros