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O mais esteriotipado, vulgar e repetitivo filme de serial killers é mais honesto do que este The House that Jack Built de Lars von Trier, com o qual ele quer causar frissons nos neurónios dos bem-pensantes facilmente titilados, e onde à provocação pueril, ao mau gosto risível e ao humor negro javardo, junta a mais rasa afectação pseudo-intelectual.
Matt Dillon interpreta o Jack do título, um arquitecto permanentemente frustrado com o seu trabalho, que é também um serial killer. Von Trier organiza o filme em cinco “incidentes”, correspondentes a outros tantos crimes de Jack, que massacra sobretudo mulheres, e não recua ante caçar uma mãe e duas crianças (não fica claro se são a mulher e os filhos dele). Entre as vítimas estão Uma Thurman (assassinada a golpes de macaco de automóvel) e Riley Keogh (morta à facada e com os seios cortados pelo picotado que Jack lhes desenha). Em off, ouve-se um diálogo entre Jack e uma personagem não nomeada (Bruno Ganz), que poderá ser um polícia, um psiquiatra ou um padre (a revelação da sua identidade irá apenas acrescentar à pretensão pesporrente de The House that Jack Built.)
Von Trier procura racionalizar e escorar intelectualmente os horríveis actos de Jack recorrendo ao cliché do “crime enquanto obra de arte”, e socorrendo-se de referências a William Blake, Bach (tocado por Glenn Gould), à pintura clássica e ao cultivo da vinha (!), acompanhadas pelas inevitáveis imagens de Hitler e dos campos de concentração nazis. É tudo primário, superficial e ridículo, sobretudo a pose de enfant terrible com idade para ter juízo de Von Trier. O filme é, também, monumentalmente aborrecido, e ao fim de meia hora e um par de crimes, já estamos a olhar para o relógio. Uma provação interminável.
Por Eurico de Barros