Ted K – O Unabomber
DRTed K – O Unabomber

Ted K – O Unabomber

A interpretação de Sharlto Copley no papel do intelectual anarquista e eco-terrorista conhecido como Unabomber, é o melhor do filme de Tony Stone.
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A Time Out diz

No dia 3 de Abril de 1996, o FBI prendeu um homem chamado Ted Kaczynski na cabana isolada e sem luz nem água corrente onde vivia há vários anos, em Lincoln, no Montana. Formado em Matemática, Kaczynski era o chamado Unabomber, um eco-terrorista revoltado contra o progresso e a cada vez maior intromissão do homem no meio ambiente. Desde 1978, ele tinha matado três pessoas e ferido 28 com bombas fabricadas em casa e enviadas pelo correio. Em 1995, em troca da sua promessa de “desistir do terrorismo” – menos de “uma (e apenas uma) última bomba” –, o The Washington Post chegou a publicar o longo manifesto anti-tecnológico de Ted Kaczynski, A Sociedade Industrial e o seu Futuro. Julgado e condenado a prisão perpétua, Kaczynski, que tinha um cancro, suicidou-se na sua cela, no passado dia 10 de Junho.

Já foram feitos vários filmes e documentários sobre o Unabomber, ou baseados na sua figura. Surge agora Ted K – O Unabomber, de Tony Stone, com o sul-africano Sharlto Copley (também um dos produtores) no papel principal. Stone, também um dos autores do argumento, foi buscar os abundantíssimos escritos deixados por Ted Kaczynski (cerca de 25 mil páginas) para construir a fita e tentar conseguir, por um lado, dramatizar com plausibilidade a sua existência; e pelo outro, estudar-lhe a psicologia e procurar clarificar os motivos da sua aversão radical e hostil à sociedade contemporânea, e das suas acções terroristas. Ted K – O Unabomber foi também rodado no local onde se erguia a cabana de Kaczynski. 

Stone procurou ser o mais factual e objectivo possível no retrato que faz deste homem, um matemático brilhante, que elegeu como inimigos o mundo moderno e a ideologia do progresso, expressos nos avanços da tecnologia e no desenvolvimento e expansão do capitalismo industrial. E que, caso raro, juntou o gesto ao discurso, indo viver em condições espartanas e praticamente sem qualquer conforto básico, para o meio da natureza contra cuja invasão, poluição e destruição pelo seu semelhante pugnava (Ted K – O Unabomber abre com Kaczynski a danificar a cabana de férias de uns vizinhos abastados e a destruir as motos de neve que lhe perturbavam o sossego – era um homem particularmente sensível ao ruído).

O Unabomber era uma figura singular, uma combinação de intelectual anarquista e ludita sem filiações político-ideológicas, e de terrorista ambiental, que a certa altura se afastou da sociedade organizada e passou a ter uma existência de acordo com as suas convicções, e que deixou um extenso e elaborado discurso sobre os motivos do seu ódio a tudo que fosse tecnologia e progresso, e das suas acções violentas. Considerá-lo apenas um louco assassino é reducionista, mas qualquer razão que lhe assistisse (caso da sua preocupação extrema com o meio ambiente, cuja conspurcação sentia como uma ofensa pessoal, quase física) perdeu-a de imediato e por completo, ao recorrer às bombas, derramar sangue e tirar vidas. 

A interpretação de Sharlto Copley, nervosa, febril, em quase constante sobressalto de indignação e revolta, dá veracidade e contextura emocional e psicológica a Kaczynski, evitando que seja uma caricatura pronta-a-odiar ou um vilão estereotipado de fita policial. Tony Stone é que parece não confiar apenas no Unabomber e na sua história para que o filme se proponha conseguir o que quer, já que recorre a liberdades ficcionais (caso da inclusão de uma figura feminina, uma bibliotecária, que nunca existiu) e a sequências onírico-fantasiosas, levando-o com isso para terrenos mais convencionais, contradizendo as suas intenções de objectividade e factualidade, e afectando a aproximação descritiva e analítica à complicada e inquietante personagem de Ted Kaczynski.

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