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Dirão que é injusto comparar a Suspiria de Luca Guadagnino com a de Dario Argento, porque se trata de uma “homenagem” e não de um remake. Mas é muito difícil não o fazer, porque a nova Suspiria mantém intacta a premissa narrativa do filme original – uma estudante americana de bailado chega a uma academia de dança alemã e descobre que é a fachada para um grupo de bruxas; e porque a fita de Argento é uma presença fortíssima, impossível de contornar ou abstrair. Além disso, mesmo que o original não existisse, a Suspiria de Guadagnino seria na mesma um filme medíocre.
À personalidade visual vistosamente gótica de Argento, Luca Guadagnino contrapõe o ambiente soturno, drenado de cor, pesado, da Berlim invernosa e dividida dos anos 70, e não quer ou não consegue criar uma atmosfera sobrenatural consistente e densa. A história, que se arrasta por duas horas e meia, está cheia de distracções e alegorias políticas marteladas (os atentados de extrema esquerda, as referências à era nazi e ao Holocausto), o terror é escasso e esparso e o clímax, uma subversão tão confusa como grotesca do filme original. O que sobra? A ideia das facções no grupo de bruxas, a moderada e a radical, uma intensa Dakota Johnson e o surpreendente triplo papel de Tilda Swinton.
Por Eurico de Barros