Começa tudo com uma sombra. A sombra da cabeça de uma guitarra. Só depois se vêem os pés, caminhando, até pararem e uma mão pousar um leitor de cassetes portátil no chão. A câmara sobe, então, e mostra David Byrne dedilhando os primeiros acordes de “Psycho Killer”. Ele, o leitor de cassetes e uma canção num palco despido. O ano é 1984. O local: Los Angeles.
A canção acaba e, primeiro, surge Tina Weymouth, acrescentando a espessura do som do seu baixo a “Heaven”. Mais tarde, enquanto na sombra do palco se vislumbra o movimento dos que carregam amplificadores e monitores, cabos, o praticável onde está montada a bateria, é a vez de Chris Frantz aparecer para acompanhar “Thank You for Sending Me”, e depois será a vez de Jerry Harrison. Os Talking Heads estão em palco. Os jogos podem começar. E que jogos, estes filmados por Jonathan Demme, em regime de quase neutralidade, fazendo o seu filme viver do espectáculo, das canções e das acções e das intenções da banda mais ousada dos anos 80.
Por Rui Monteiro