O jornalista italiano Massimo Gramellini publicou há meia década o romance autobiográfico Fai Bei Sogni, êxito de vendas agora transposto para filme por Marco Bellocchio. O título é a última coisa que a mãe lhe diz antes de morrer, tem Massimo nove anos e o mundo está a chegar a 1970 – arranque para um filme estimável que teria ganho em veemência se não abusasse do simbolismo para acentuar o que já se percebeu. O pai do garoto é de nulo préstimo afectivo, o que, aliado ao desaparecimento precoce e mal explicado da idolatrada âncora maternal, resulta num crescimento por sua conta, criando um mundo aos soluços. A blindagem emocional de Massimo prolonga-se pela vida adulta, com sucesso no jornalismo desportivo, como repórter de guerra em Sarajevo e no correio sentimental do La Stampa. E é ver o emprego invulgar, pungente e terapêutico, de “Surfin’ Bird” dos Cramps.
Por Jorge Lopes