Comecemos pelo princípio. Em 1973, um criminoso sueco, acabado de sair da cadeia, assaltou um banco em Estocolmo, fez quatro reféns (três mulheres e um homem) e exigiu a libertação de um outro presidiário, seu amigo e cúmplice. Este foi entregue no banco pela polícia. Os dois homens estabeleceram uma estranha relação com os reféns, que começaram a defender, justificar e proteger os seus captores.
Cinco dias depois, a polícia lançou gás lacrimogéneo para dentro do banco, capturou os dois malfeitores e libertou os reféns, que persistiram em continuar a defender os seus agressores, recusando testemunhar contra eles em tribunal. Este comportamento insólito foi depois muito estudado e analisado, tendo sido baptizado como “Síndrome de Estocolmo” por um psiquiatra e criminólogo sueco, Nils Bejerot. A designação passou a ser aplicada às situações em que reféns e captores desenvolvem um laço psicológico.
Um ano depois dos estranhos acontecimentos no banco de Estocolmo, o jornalista americano Daniel Lang publicou um artigo sobre o sucedido na revista The New Yorker. Foi aqui que Robert Budreau, realizador e argumentista de Síndrome de Estocolmo, foi buscar inspiração para o filme. Ethan Hawke, que já tinha trabalhado com Budreau interpretando Chet Baker no filme biográfico Born to Be Blue (2005), é Kaj, o delinquente sueco que viveu muitos anos nos EUA e invade o banco de Estocolmo como se tivesse saído de Easy Rider, com uma metralhadora numa mão e um rádio portátil na outra, no qual se põe a ouvir Bob Dylan (“Que tipo de polícia é que não gosta de Dylan? Que tipo de pessoa é que não gosta de Dylan?”, grita ele a um polícia que o tentou desarmar.)
Kaj deixa sair toda a gente, menos duas caixas, e é uma delas, Bianca (Noomi Rapace) que ele usa como mediadora para as suas conversas com a polícia.
Uma vez libertado o outro criminoso, Gunnar (Mark Strong), e levado para o banco pela polícia, é feito mais um refém, um empregado que estava escondido. E enquanto as autoridades não cumprem as exigências dos captores, Kaj e Bianca começam a simpatizar um com o outro, e os três reféns e os dois delinquentes a criar uma inesperada cumplicidade. A polícia, empenhada em resolver rapidamente a situação, nem sequer desconfia do que está a suceder.
O filme é centrado na relação improvável que se desenvolve entre Kaj e Bianca, que são diferentes como o ovo e o espeto (ele, um fora da lei contumaz que diz ter merecido todas as condenações que já teve, ela, a empregada, cidadã, mulher e mãe de família exemplar), mas o realizador não consegue explicar satisfatoriamente por que é que ela se desenvolveu, nem a razão de as vítimas ficarem do lado daqueles que deviam obviamente execrar. E Robert Budreau também não se decide se está a rodar um drama sério em forma de heist movie, ou uma comédia a namorar com o absurdo.
O que fica de Síndrome de Estocolmo é apenas o one man show de Ethan Hawke num Kaj destrambelhado e em alta voltagem permanente, e tão fanático de Steve McQueen que, para a fuga, pede à polícia um Mustang igual ao que o actor guia em Bullitt.
Por Eurico de Barros