Poderíamos esperar que, sem Denis Villeneuve a realizar, agora substituído pelo italiano Stefano Sollima (Suburra), e sem a personagem de Emily Blunt, Sicário – Guerra de Cartéis, fosse um filme inferior a Sicário – Infiltrado (2015). Engano.
Graças ao argumentista Taylor Sheridan, e aos repetentes Josh Brolin e Benicio Del Toro, esta segunda fita da série sobre a guerra entre os EUA e os cartéis da droga mexicanos, travada ao longo da fronteira entre os dois países, é tão intensa, sem ilusões e selvática como a primeira.
Agora, a atenção de Washington passou das drogas para os clandestinos que entram nos EUA via México (o filme mostra que a emigração ilegal é um negócio desumano e implacável, controlado pelos cartéis dos estupefacientes), e que podem estar a incluir terroristas islâmicos. É organizada uma operação clandestina para atirar os cartéis uns contra os outros, mas as coisas correm mal e os operacionais largados no terreno são obrigados a ter que tomar decisões tão frias e extremas como os seus métodos. Tal como no primeiro filme, a história urdida por Taylor Sheridan dá-nos o quadro geral sem perder de vista os enredos mais pequenos que se vão imbricar nele, Sollima realiza com punho de ferro, a banda sonora de Hildur Guðnadóttir emula e faz uma vénia à do falecido Jóhann Jóhannsson para o primeiro filme, e Brolin e Del Toro são como dois rochedos com forma humana. Mas agora a revelar dimensões éticas e humanas que não se adivinhavam em Sicário – Infiltrado, o que fica bem às suas personagens, e ao filme.
Por Eurico de Barros