Sexygenários
Manuel Moutier

Crítica

Sexygenários

3/5 estrelas
Uma despretensiosa e amável comédia dramática ligeira, dobrada de “filme de amigos” como os franceses (ainda) sabem fazer.
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A Time Out diz

Michel (Thierry Lhermitte), um dos dois protagonistas de Sexygenários, de Robin Sykes, já passou os 60 anos de idade, mas está muito longe de poder gozar do descanso e das benesses dos reformados franceses. É viúvo e o filho e a nora vão mudar-se para Madrid por razões profissionais, levando com eles a neta de quatro anos, que adora; não tem vagar nem paciência para ter aventuras amorosas, apesar de uma velha amiga e paixão de juventude se ter separado do marido e regressado de Nova Iorque para voltar a morar na casa dos pais, perto da sua; e o hotel de praia de que é proprietário, e gere com um velho amigo, está a passar por graves problemas financeiros, na ressaca do Covid.

Michel recorre então a outro velho amigo, Denis (Patrick Timsit), também sexagenário, do qual é sócio de uma cervejaria em Paris, para que este lhe reembolse o dinheiro que lhe emprestou nos últimos anos para fazer melhorias no estabelecimento. Qual não é o seu espanto quando, já em Paris, descobre que Denis vendeu a cervejaria sem lhe dizer nada, usou o dinheiro todo para pagar as dívidas e vive com a filha, médica estagiária, no apartamento desta, porque a mulher o deixou e ficou com absolutamente tudo. E Michel descobre também que, para ganhar a vida, Denis faz agora anúncios de produtos para a terceira idade, desde elevadores de escadas a fraldas para incontinentes. Ele é, na linguagem publicitária, um “sexygenário”.

Michel vai assistir à rodagem de um anúncio do amigo e é “descoberto” pela agente deste. E como é um homem bem mais bem-parecido e com ar distinto do que Denis, a imagem chapada do “sexygenário” ideal, ela propõe-lhe participar em anúncios de topo de gama, muito bem pagos. Michel chama um figo à oferta, porque já teve que vender o carro para pagar os ordenados do mês aos empregados do hotel e as notícias que chegam de lá continuam a ser preocupantes: os clientes são poucos, as contas acumulam-se e, como a lavandaria deixou de fiar, as empregadas dos quartos têm que levar a roupa de cama dos hóspedes para a lavar em casa. Mas o seu novo estatuto, e o facto de ser mais bem pago que Denis, vai causar um mau-estar crescente entre ambos. E Michel percebe também que nem tudo são rosas para um “sexygenário” de sucesso no meio publicitário (além de começar a ser assediado sexualmente pela sua sedutora agente, 30 anos mais nova que ele…).

O cinema francês sempre fez bem, e com muita regularidade, a categoria de filmes em que Sexygenários entra como luva cara em mão de mulher sofisticada. É ela a comédia dramática ligeira dobrada de “film de copains”, em que dois ou mais amigos de longa data, já entradotes, casados, divorciados ou solteiros, têm que enfrentar as consequências da idade, as maçadas familiares ou então problemas sentimentais, profissionais ou financeiros. E como estes filmes são cada vez mais escassos, apesar da produção cinematográfica francesa continuar a ser a mais abundante, ou uma das mais abundantes, da Europa, há que aproveitar este despretensioso, bem-comportado e amável Sexygenários, em que os experimentadíssimos Lhermitte e Timsit vão tão bem um com o outro como o bitoque e o ovo a cavalo, e que – pasme-se! – o realizador e argumentista Robin Sykes “arruma” em 71 minutos, e sem impingir “mensagem” fofinha, doutrina na moda ou moral de plástico a ninguém. Limpinho, limpinho, como dizia o outro.

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