A segunda longa-metragem de Barry Jenkins, que ganhou três Óscares com o seu filme de estreia, Moonlight (2016), é uma adaptação de um livro escrito nos anos 70 – e bastante datado – de James Baldwin. E parece uma reiteração menor, formal, no tom e na elaboração dramática, do filme de estreia do realizador. Passado no Harlem, Se Esta Rua Falasse é uma história de amor entre dois amigos de infância, Tish (Kiki Lane) e Fonny (Stephan James), contrariada pela prepotência racista. Fonny é injustamente acusado de violação e preso, na altura em que estão a planear uma vida em comum e Tish descobre que está grávida. Com um enredo e personagens transparentes e um subtexto de ressentimento social, Barry Jenkins perde- -se, sobretudo quando os dois amantes estão em cena, num laborioso clima visual em “inho” que confunde com lirismo, e usa e abusa da música para nos dizer o que devemos sentir e quando. Se Esta Rua Falasse passa o tempo a patinhar na autopiedade e num sentimentalismo insistente, pegajoso e cansativo, que nos afasta das personagens em vez de nos manter ao lado delas.
Por Eurico de Barros