Ruben Brandt, Coleccionador (2018)
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Crítica

Ruben Brandt, Collector (Ruben Brandt, a gyujto)

3/5 estrelas
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A Time Out diz

Pessoas com duas caras e corpos e feições invulgarmente alongados, mãos sem corpo que tocam piano, quadros de onde os retratados saem e entram a seu bel-prazer. Ruben Brandt, Coleccionador, com produção húngara, é a primeira longa-metragem animada do esloveno Milorad Krstic (que se estreia a realizar com a bonita idade de 66 anos). O mundo em que se passa a acção é um espelho deformado, uma versão extravagantemente exagerada do nosso, parte cubista, parte surreal, onde o realizador se farta de brincar com as perspectivas, as formas geométricas, a história, os ícones e as convenções da pintura e da escultura, e com a dimensão onírica e os clichés da psicanálise.

E quem é Ruben Brandt? Um psiquiatra atormentado nos seus sonhos por personagens de 13 dos mais famosos quadros do mundo, que o atacam violentamente, da Vénus de O Nascimento de Vénus, de Botticelli, a uma das figuras de Nighthawks, de Edward Hopper (aquela até se transforma na Bruxa do Mar do filme A Pequena Sereia, da Disney.)

Ruben chega à conclusão que só se curará destes horrendos pesadelos se ficar de posse das respectivas 13 obras de arte, que se encontram espalhadas por grandes museus de todo o mundo. Entram então em cena quatro dos seus pacientes, que decidem ajudá-lo: a linda cleptomaníaca e ladra profissional Mimi; Bye-Bye Joe, um guarda-costas de celebridades; Membrano Bruno, um assaltante de bancos; e Fernando, um génio da informática.

Ruben Brandt, Coleccionador mete a mudança de filme de acção globetrotter, os 13 quadros começam a ser roubados de forma engenhosa ou espectacular, os media não param de falar de um ladrão a que chamam “O Coleccionador”, e o detective Mike Kowalski, que já andava no encalce de Mimi, passa também a investigar o caso, em redor do qual gravitam ainda outros comparsas menores.

Investindo num tipo de animação muito estilizado e numa narrativa cujo ludismo artístico-cultural e concepção intelectual afastam de imediato o público infanto-juvenil, Milorad Krstic constrói um filme que, do ponto de vista estético e narrativo, nada tem a ver com o cinema animado a que estamos habituados, seja aquele saído dos estúdios de Hollywood, seja o nipónico, seja ainda o europeu mais tradicional.

Além da pintura, central ao enredo, o cinema tem também direito a uma sucessão de citações e de piscadelas de olho, que tanto podem ser secundárias e fugidias, como fazerem parte integrante da história. É o caso da perseguição na auto-estrada, que remete para os filmes de James Bond ou da série Missão: Impossível, até mesmo no exagero assumido da encenação e no desafio chapado às leis da física que são característicos destes.

O filme tem momentos em que anda perigosamente perto de ser vítima de uma overdose de exibicionismo de referências cultas, pictóricas, cinéfilas e psicanalíticas, mas Krstic evita o pior, se bem que Ruben Brandt, Coleccionador tivesse ganho em ser mais curto: hora e meia é manifestamente demais para esta história. Não reinventa a animação, mas tem originalidade, personalidade e imaginação mais do que suficientes para merecer o nosso interesse.

Por Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:96 minutos
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