Filme, Cinema, Comédia, Rifkin's Festival (2020)
©DRRifkin's Festival de Woody Allen

Crítica

Rifkin's Festival

3/5 estrelas
Passado no Festival de San Sebastián, ‘Rifkin’s Festival’s não é um Woody Allen de primeira água, mas vale pelos pastiches cinéfilos que percorrem a história.
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A Time Out diz

Intelectual Nova-Iorquino neurótico, hipocondríaco e em crise criativa? Confere. Casais com os matrimónios periclitantes? Confere. Elogio do cinema clássico europeu e depreciação do cinema contemporâneo? Confere. Meditações angustiadas sobre o sentido da vida, a ausência de Deus, a arte e a morte? Confere. Referências em rajada a filmes de grandes mestres do cinema? Confere. Rifkin’s Festival, rodado em San Sebastián durante o festival de cinema desta cidade basca, é um filme de Woody Allen tão chapadamente familiar que quase se diria um pastiche aplicadíssimo feito por um admirador fanático do realizador, o equivalente em cinema daquelas bandas de homenagem que tocam sem falhar uma só nota as músicas do grupo que veneram.

A personagem do título, Mort Rifkin (Wallace Shawn), é o proverbial alter ego de Woody Allen, um académico, cinéfilo e romancista frustrado que, relutantemente, acompanha a mulher, Sue (Gina Gershon), que trabalha como relações públicas do meio do cinema, ao Festival de San Sebastián, e está a assessorar um jovem realizador francês na moda, Philippe (Louis Garrel), a coqueluche do certame. Rifkin desconfia que a mulher e Philippe andam enrolados, fica ansioso e com formigueiros num braço, e marca uma consulta com uma médica local, Jo Rojas (Elena Anaya, muito pouco à vontade no papel e a falar inglês), mulher culta e sedutora, que viveu em Nova Iorque e está casada com um pintor copofónico, teatral e adúltero em série (Sergi López). É claro que Rifkin fica caidinho por ela.

Pertencente àquela série de filmes que Woody Allen roda em cidades europeias que o convidam (a que alguns se referem, maldosamente, como os “filmes turísticos” do realizador), Rifkin’s Festival seria uma fita em que Allen estaria apenas a rever a matéria dada, a reiterar muito literalmente, e de forma algo preguiçosa, os temas que lhe são mais queridos, não fossem as sequências oníricas e os devaneios acordados de Rifkin, que tomam a forma de paródias a sequências canónicas de clássicos do cinema, recriadas com enorme rigor visual pelo director de fotografia Vittorio Storaro.

As melhores são as de O Mundo a Seus Pés em versão judaica nova-iorquina na infância de Rifkin (o trenó chama-se Rose Budnick), a de A Máscara, de Ingmar Bergman, com Gershon e Anaya a comentarem em sueco os defeitos do protagonista, e a de O Sétimo Selo, de Bergman, na qual, em plena Praia da Concha de San Sebastián, Rifkin joga xadrez com a morte (interpretada por Christoph Waltz), que lhe dá conselhos existenciais e de boa nutrição, e que, quando ele lhe pergunta quando a voltará a ver, responde: “Depende. Fumas?” E há ainda, a espaços, gags da melhor colheita allenesca, como aquele em que um realizador libidinoso diz a uma starlet escassamente vestida que faria uma excelente Hannah Arendt no filme sobre o julgamento de Eichmann que ele se prepara para rodar.

No seu próximo projecto, Woody Allen vai regressar a Paris (cidade, aliás, vasta e elogiosamente referida ao longo de Rifkin’s Festival pelas personagens principais, bem mais do que a própria San Sebastián, mostrada apenas superficialmente), onde filmou Meia-Noite em Paris (2011). Espera-se que esteja bem mais inspirado do que nesta visita ao País Basco.

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