Publicado em 1958, Seara de Vento, de Manuel da Fonseca, foi um título importante do neo-realismo, e de militância política por via literária, dada a ligação do seu autor ao PCP.
Tal como a maior parte das obras desta escola, Seara de Vento datou muito, e a sua adaptação ao cinema, com o título Raiva, por Sérgio Tréfaut, surge como que deslocada do seu tempo. É o tipo de filme que veríamos, por exemplo, ser feito nos anos seguintes ao 25 de Abril por um Manuel Guimarães ou um Luís Filipe Rocha da fase inicial, em que rodou A Fuga e Cerromaior.
Tréfaut aborda esta história de miséria, exploração e desespero com muita preocupação estética, transformando cada plano num quadro de meticulosa composição formal, com os actores muito em pose, o que acaba por polir a dureza do retrato social e instalar uma rigidez emocional e visual que drena o dramatismo do filme. Raiva é um disco voador cinematográfico que aterra tarde demais e já não impressiona ninguém.
Por Eurico de Barros