As histórias de sobrevivência não acontecem só na natureza selvagem ou durante as guerras. Podem também ter lugar numa prisão tailandesa, por exemplo. Perguntem a Billy Moore, um pugilista e junkie inglês que passou três anos na penitenciária de Klong Prem, conhecida como “Bangkok Hilton”, e conseguiu sobreviver para escrever a sua história e publicá-la em livro, aqui passado ao cinema por Jean-Stéphane Sauvaire e interpretado por Joe Cole (Peaky Blinders).
Único ocidental no meio de centenas de prisioneiros asiáticos, Moore viveu o Inferno na Terra e deve a sobrevivência em grande parte aos seus dotes de lutador, que lhe permitiram dedicar-se, na cadeia, ao muay thay, a arte marcial tailandesa, e desporto nacional do país. Isso levou-o a fazer parte da equipa de lutadores da penitenciária e a gozar de alguns privilégios, livrando-o de estar fechado com dezenas de marginais perigosíssimos e tatuadíssimos que matam por dá cá aquela palha, de dormir no chão ao monte e acordar com o parceiro do lado morto, ou de assistir a violações colectivas.
O filme é rodado em estilo “bruto e feio”, como bruta e feia é a existência diária em Klong Prem. Sauvaire retrata Billy Moore tal e qual como ele era, sem o desculpabilizar ou tentar tornar simpático. Lá dentro, Billy continuou a consumir heroína, pactuou com guardas corruptos por droga e cigarros e não protagonizou nenhum tipo de “redenção”, tendo tido que literalmente lutar pela própria vida. A crueza da sua história é replicada pelo realizador na crueza com que a filma. De tal forma, que acaba por saturar. Uma Prece Antes do Amanhecer teria beneficiado se Jean-Stéphane Sauvaire lhe tivesse rapado uns 20 ou 30 minutos.
Por Eurico de Barros