O livro original de Roberto Saviano é de uma brutal secura descritiva. Os rapazes do gangue de Nicola que trabalham para a Camorra, a máfia napolitana, cruzam as ruas da cidade nas suas motos, armados de kalashnikovs e pistolas, não querem uma vida de trabalho árduo e mal compensado como os pais (os que os têm), querem tudo do bom e do melhor, imediatamente, e matam e morrem pelos seus chefes, que os substituem com a mesma indiferença utilitária com que os recrutaram. E Nicola é um adolescente quase tão amoral e cruel como aqueles que mandam nele. O filme que Claudio Giovannesi tirou da obra, Piranhas – Os Meninos da Camorra, com a colaboração do próprio Saviano no argumento, é mais brando no tom e na violência, ao centrar-se na transformação dos miúdos em “soldados rasos” da Camorra, e na vida de adolescentes normais que sacrificam ao enveredar pelo crime e pela satisfação imediata e fácil dos seus sonhos. Uma alteração que se reflecte na caracterização mais “humana” de Nicola. Ainda assim, Piranhas – Os Meninos da Camorra, bate duro e fundo.
Por Eurico de Barros