A tradição e a ganância colidem e misturam-se de forma insólita neste filme dos colombianos Ciro Guerra (O Abraço da Serpente) e Cristina Gallego. Por um lado, Pássaros de Verão é mais uma fita sobre o tráfico de droga na Colômbia, passada nos anos 70 e 80, no que terá sido a génese dos grandes cartéis, e envolvendo os índios Wayuu, que começaram a negociar marijuana com o exterior. Por outro lado, é um filme sobre o modo de vida tradicional, ancestral e fechado dos mesmos Wayuu, e como ele é radicalmente afectado pela sua entrada no mercado da droga e pelo contacto com os não-nativos, acarretando dissenções, conflitos, descaracterização e quebra de costumes, e violência entre as famílias dos vários clãs.
Guerra e Gallego centram-se numa dessas famílias, liderada pela sua matriarca, Úrsula, e cujo genro, Rapayet, começa a traficar marijuana com Moisés, um amigo, que não pertence ao seu clã nem à sua etnia, e por isso é encarado com desconfiança. A droga traz dinheiro, poder e bens de consumo a Rapayet e aos seus, mas mandam as convenções do género que a uma ascensão fulgurante, segue-se uma queda trágica.
Pássaros de Verão segue essas mesmas convenções, o que acaba por o tornar previsível e moralizante. Mesmo assim, é uma glosa inesperada e culturalmente original do filme sobre guerras da droga, qual Scarface étnico.
Por Eurico de Barros