Pacifiction
Photograph: Grasshopper Film

Pacifiction

Juntamente com ‘A Morte de Luís XVI’, é o filme mais acessível e mainstream do espanhol Albert Serra. Passa-se no Taiti. Mas o que parece acaba por não ser.
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A Time Out diz

Com os seus fatos brancos de Verão, as suas camisas de fantasia e os seus modos descontraídos, De Roller (Benoît Magimel), o protagonista de Pacifiction, de Albert Serra, poderia, à primeira vista, ser confundido com um dos muitos turistas que rumam ao Taiti em busca de exotismo e de repouso. Mas De Roller é, na realidade, um diplomata, o Alto Comissário de França na Polinésia, um cargo que o leva a conviver com toda a gente na região, dos políticos e eclesiásticos até aos donos dos bares, aos funcionários dos hotéis e aos membros dos grupos de danças tradicionais que actuam para os turistas.

Seria o cargo de sonho para qualquer diplomata, mas sucede que De Roller, que está em fim de comissão, anda cada vez mais preocupado. Há rumores de que a França poderá retomar os testes nucleares que ali realizou noutros tempos, com efeitos trágicos para muitos dos habitantes; um movimento político local prepara-se para se manifestar contra esta possibilidade, e ameaça com violência; chegou um navio de guerra francês comandado por um almirante com um comportamento ridículo e um discurso suspeito; De Roller descobre um submarino movimentando-se ao largo; e aparecem na ilha um português e um americano, supostos turistas mas que poderão muito bem estar a dar apoio ao referido movimento indígena.

Parecem estar na mesa de Pacifiction todos os ingredientes para a construção de um thriller de espionagem de ambiente exótico e subtexto político (a certa altura, um dos comparsas de De Roller chega mesmo a referir James Bond). Mas embora este seja, com A Morte de Luís XIV (2016), o filme mais acessível e de personalidade mais mainstream do habitualmente muito artsy e esdrúxulo Albert Serra (um favorito dos festivais e de alguma crítica dita de “referência” – Pacifiction foi o melhor filme de 2022 para os Cahiers du Cinéma), e isto apesar da sua duração (165 lânguidos e deambulantes minutos), percebemos, ao fim de algum tempo, que essa não é a intenção do realizador espanhol.

Pelo contrário, a ideia é fazer um filme de “autor” utilizando as paisagens, situações feitas e personagens-tipo daquele género, um contra-thriller de espionagem em paragens paradisíacas, em que nada do que parece ir acontecer acontece na realidade, e em que a história não tem explicações, resolução nem clímax – tudo pelo contrário. E que chega a pôr em causa a credibilidade – ou até a sanidade – da personagem principal. Haverá mesmo a ameaça de uma sombra nuclear sobre a região, e espiões estrangeiros a rondar nos hotéis e nas praias, ou não passará tudo de uma manifestação de paranóia por parte de De Roller? Andará ele tão iludido como o espectador ficou frustrado nas suas expectativas?

Pacifiction é um filme decepcionante para quem estava à espera que ele fosse o que aparenta ser até determinada altura, mas será decerto satisfatório para os devotos de mãos postas do cinema de Albert Serra (um culto do qual o autor destas linhas se declara incréu). Quem tiver paciência de varar as suas quase três horas sempre terá a consolação da interpretação de Benoît Magimel no zeloso e demótico De Roller, e das imagens de bilhete-postal de luxo filmadas em sumptuoso e rasgado Scope. Só que um bilhete-postal a que faltou pôr o selo.

Elenco e equipa

  • Realização:Albert Serra
  • Argumento:Albert Serra
  • Elenco:
    • Pahoa Mahagafanau
    • Benoît Magimel
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