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Este filme parece ter sido concebido de propósito para que Matthew McConaughey pudesse fazer mais um daqueles seu papéis em que muda radicalmente de aspecto físico, até ficar quase irreconhecível, ou muito magro, ou muito gordo. A chamada escola de representação do estica-encolhe, e que já lhe valeu um Óscar em O Clube de Dallas (2013) e uma nomeação para o Globo de Ouro com True Detective.
Aqui, um McConaughey pançudo e meio careca interpreta Kenny Wells (o filme baseia-se em personagens e factos reais), um prospector de minérios que, nos anos 80, e à beira da ruína, se associa a um geólogo, Michel Acosta (Edgar Ramírez), que diz ter encontrado uma fabulosa jazida de ouro nas selvas da Indonésia. Kenny viaja com ele até lá, e confirma que o que Michel diz é verdade. Os dois fazem uma sociedade e começam a explorar a jazida, e a beneficiar da sensação causada pela notícia, que restaura a reputação de Kenny e o faz voltar ao topo do seu negócio. Onde dantes era escorraçado com uma gargalhada, é agora recebido de braços abertos e carteiras disponíveis para investimentos.
A partir daí, Ouro passa a seguir o curso tradicional dos filmes que giram em redor do tema da riqueza subitamente adquirida: personagens inebriadas pela sua fortuna, mercados em êxtase de entusiasmo, girândolas de gastos sumptuários e luxos desnecessários, associações com personagens pouco recomendáveis (no caso, o presidente indonésio Suharto e o seu filho playboy). E como manda a lei dos clichés, tão alto e depressa como Kenny subiu, assim vai cair.
A certa altura, o filme, realizado por Stephen Gaghan (Syriana) perde vapor dramático e começa a ir de situação feita em situação feita. Matthew McConaughey, que também produz, tenta salvar o dia sozinho, carregando na interpretação, com abuso dos gestos largos e das tiradas arrevesadas, até chegarmos ao final previsível e moralista da praxe. Este Ouro não é de lei.
Por Eurico de Barros