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O novo filme de Emmanuel Carrère adapta o livro Le Quai de Ouistreham, de Florence Aubenas, uma jornalista francesa que se infiltrou no mundo das empresas de limpeza para investigar a precariedade laboral no sector. Juliette Binoche, única actriz profissional do elenco, interpreta a protagonista, aqui chamada Marianne Winkler, que arranja um emprego num grupo de mulheres (e alguns homens) que limpam as cabinas dos ferries no porto de Caen. Carrère não envereda pelo miserabilismo simplista ou pela demagogia pronta-a-indignar, mantendo um registo de realismo justo, mas que não seca a emoção, mostrando a dureza desgastante e ingrata deste trabalho, e as vidas difíceis de quem o faz, mas também a entreajuda e o calor humano que existe entre as pessoas. Ouistreham – Entre Dois Mundos é ainda um filme sobre a mentira. Marianne pratica uma impostura necessária e não pode revelar a sua verdadeira identidade, nem sequer às colegas de quem se torna mais próxima, o que a incomoda e lhe vai pesando cada vez mais na consciência. Hélène Lambert, que interpreta Chrystèle, a melhor amiga de Marianne, e trabalha mesmo na limpeza de ferries, é o diamante em bruto desta fita.