Desde 1999, ano em que o romance Motherless Brooklyn, de Jonathan Lethem, foi publicado, que o actor Edward Norton andava a tentar filmá-lo, tendo-o conseguido após duas décadas de insistência e com um orçamento bem mais pequeno do que a fita dá a entender.
Além de realizar Os Órfãos de Brooklyn, Norton também escreveu o argumento (que, entre outras alterações ao livro, passa a acção da nossa época para a década de 50) e interpreta o papel principal. Ele é Lionel Essrog, um detective particular que sofre da síndrome de Tourette, que o faz torcer-se com tiques e dizer coisas absurdas ou inconvenientes a todo o pé de passada.
O seu patrão e melhor amigo, Frank Minna (Bruce Willis), tirou-o, e aos três outros investigadores da agência, quando eram mais novos, de um orfanato onde eram maltratados, dando-lhes amizade e emprego. Quando Frank é assassinado durante uma investigação que manteve secreta para os seus homens, Lionel decide investigar as circunstâncias da sua morte. E cai de cabeça num enredo de corrupção municipal, discriminação racial e segredos de família, que tem como protagonistas principais Laura, uma jovem negra (Gugu Mbatha-Raw) que participa num movimento que está a denunciar uma série de arbitrariedades urbanísticas em Brooklyn, Robert Randolph (Alec Baldwin), o popular e poderoso vereador encarregue do desenvolvimento urbano, e Paul Randolph (Willem Dafoe), um outrora brilhante engenheiro caído no esquecimento e na penúria.
Os Órfãos de Brooklyn contempla uma recriação saborosamente microscópica de Nova Iorque na década de 50, tem uma vincada identidade de policial com fundo “social” como se faziam nessa altura e Norton não permite que Lionel, por via do mal de que sofre, se transforme numa figura caricatural ou num pretexto para exibicionismo. O ponto fraco do filme está na história, totalmente previsível a partir de certa altura e com clichés, personagens tipificadas e situações feitas a mais. O embrulho de Órfãos de Brooklyn é magnífico, Edward Norton devia era ter cuidado melhor do que vai lá dentro.
Por Eurico de Barros