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Eli E Charlie são irmãos e o seu apelido (Sisters) daria para serem alvos de chacota, não fora eles serem pistoleiros a soldo, assassinos contratados, e dos mais temíveis.
Logo no início de Os Irmãos Sisters, o primeiro filme em língua inglesa do francês Jacques Audiard (De Tanto Bater o meu Coração Parou, Ferrugem e Osso, Dheepan), Eli (John C. Reilly, que também produz o filme) e Charlie (Joaquin Phoenix), matam a tiro, em plena noite, uma série de homens dentro de uma casa isolada, enquanto um cavalo em chamas sai num galope louco de um celeiro que arde. Ai de quem se meter com estes irmãos.
Os Sisters foram encarregues pelo vilão de serviço, o misterioso Comodoro (Rutger Hauer), de encontrar e matar Hermann Kermit (Riz Ahmed), um químico queinventouumprocessode detectar e extrair ouro dos rios com grande eficácia, mas não o quis partilhar com ele e fugiu.
À frente de Eli e Charlie, o Comodoro mandou John Morris (Jake Gyllenhaal), cuja missão é detectar Hermann, fazer-se amigo dele, aprisioná-lo e depois passá-lo aos irmãos, que lhe deverão extrair a fórmula secreta e depois abatê-lo a tiro.
Passa-se que John Morris no fundo é bom tipo, e surpreende-se a ter mais pontos de contacto do que poderia pensar com o químico que captura. E que, ao contrário do seu irmão Charlie, Eli está a começar a ficar farto da vida de pistoleiro e das constantes matanças que ela implica. Na verdade, Eli é muito diferente do irmão, mas não podem passar um sem o outro, e precisam de se proteger mutuamente quando trabalham. Vai daí, o enredo do filme dá uma volta e passa tudo e ir procurar ouro, não sem que antes haja um tiroteio como mandam as regras.
Os Irmãos Sisters é um western peculiar: foi filmado por um francês na Roménia e em Espanha, é baseado no livro de um escritor canadiano e tem um elenco maioritariamente de actores americanos, mais dois ou três europeus. E ora dá uma no cravo da tradição, ora na ferradura do western revisionista (o final da fita será, para os puristas do género, tão inesperado quanto decepcionante).
John C. Reilly e Joaquin Phoenix fazem, naturalmente, as despesas da história, aquele num Eli capaz de compaixão, cada vez mais atraído pelo apelo da civilização (o filme passa-se durante a acelerada expansão para o Oeste) e capaz de ficar fascinado pela descoberta do dentífrico, este mais sanguinolento, brutinho e primário. No final, o sangue fala mais alto do que a pólvora. E isso é sempre bonito.
Por Eurico de Barros