À beira de fazer 90 anos e a perder a vista, Agnès Varda pegou em si, juntou-se ao fotógrafo e artista plástico JR, meio século mais novo que ela, e foram ambos, na carrinha deste, que também funciona como estúdio fotográfico ambulante, atravessar a França, fotografando pessoas a eito e depois colando esses retratos, em tamanho gigante, nas paredes das suas vilas, casas, quintas ou locais de trabalho.
Apesar da presença de JR e das suas fotos descomunais, Olhares Lugares é um documentário todo ele de Varda. Melancólico e bem-disposto, peripatético, poético e artesanal, partindo dela para os outros, sempre em busca de histórias curiosas, coincidências, acasos e pequenos insólitos, sempre atraída pelas pessoas comuns e pelas suas vidas e interesses, e encontrando ao longo do caminho, coisas, objectos e gente que consegue relacionar com a sua própria existência, com os seus hábitos e gostos ou com o cinema: o seu, o dos outros ou o da sua geração.
Precisamente, Olhares Lugares tem um final relacionado com cinema e com velhas amizades, passado na Suíça, e do qual Jean-Luc Godard não sai nada bem, dando a quem nunca simpatizou com a figura ainda mais razões para reforçar essa antipatia. Para Varda, tudo, tudo; para Godard, nada, nada.
Por Eurico de Barros