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Em 1981, no seu filme ‘Blow out’, Brian de palma aludiu pela primeira vez no cinema americano à tragédia de Chappaquiddick, ocorrida na noite de 18 de Julho de 1969, na ilha do mesmo nome, quando um carro guiado pelo senador Ted Kennedy, o último dos irmãos Kennedy vivos, galgou uma pequena ponte e caiu num lago, provocando o afogamento da jovem Mary Jo Kopechne, que tinha sido secretária de Bobby Kennedy. Ted Kennedy só comunicou o acidente na manhã seguinte, declarou-se culpado de comportamento negligente e safou-se com uma pena de dois meses de prisão suspensa.
Se Blow Out alude apenas ao incidente, e nele quem morre é o político e a rapariga que o acompanha se safa, O Segredo dos Kennedy trata os bois pelos nomes, recriando o que se passou a seguir ao desastre, mostrando como Ted Kennedy (Jason Clarke), o seu pai Joe (Bruce Dern), confinado a uma cadeira de rodas após ter tido um AVC, e os mais próximos e fiéis do clã Kennedy lidaram com o caso, movimentando influências e pressionando pessoas, até conseguirem minorar os estragos e as consequências políticas do sucedido. Ted Kennedy safou-se com uma pena ligeira e foi sempre eleito para o Senado até à sua morte, em 2009, mas nunca chegou a presidente dos EUA.
Contando com uma interpretação inteligentemente sóbria de Jason Clarke no ziguezagueante Ted Kennedy, que vive sob o peso da sombra dos seus irmãos mais ilustres e mais queridos pelo pai, o tirânico Joe Kennedy (Bruce Dern), este filme de John Curran apresenta dois méritos. Primeiro, tem a coragem de recusar a versão oficial dos apoiantes dos Kennedy, mostrando os aspectos mais feios e sujos do caso; depois, não cai no revisionismo radical na moda, fazendo de Ted um monstro insensível e egoísta. Mostra-o antes como um homem hesitante e um político perdido no seu labirinto moral, dividido entre o que a consciência lhe dita e o que a ambição lhe pede, mas sem nunca o desculpar.
Por Eurico de Barros