Este é o primeiro filme que Kiyoshi Kurosawa, um dos mestres do cinema de terror e do thriller do seu país (Cure, Pulse, Castigo, Rumo à Outra Margem), realiza fora do Japão. Mas é como se ele nunca tivesse de lá saído, de tal forma consegue reproduzir, num subúrbio indistinto e delapidado de Paris, a atmosfera dos kaidan, as histórias de fantasmas clássicas nipónicas.
E Kurosawa fá-lo através de uma história que associa a fotografia à manifestação do sobrenatural. Olivier Gourmet interpreta Stéphane, um famoso fotógrafo de moda que, no soturno estúdio situado na cave do seu palacete, decidiu regressar ao que considera ser a essência da sua arte. Lá reproduz, solene e obsessivamente, velhos daguerreótipos em tamanho natural, utilizando a filha Marie (Constance Rousseau) como modelo, vestida com roupas do século XIX. Marie sucedeu à mãe, que se suicidou, nesta função.
Stéphane contrata como assistente o jovem Jean (Tahar Rahim), que se vê mergulhado nesta atmosfera pesada e fantasmagórica, acaba por entrar em colisão com Stéphane, apaixona-se por Marie e mete-se num negócio sujo pela venda do palacete.
Mesmo que Kurosawa perca o pé à verosimilhança a partir de certa altura, O Segredo da Câmara Escura conserva até ao fim a sua identidade álgida e espectral.
Por Eurico de Barros