Com a estreia de A Floresta das Almas Perdidas e a reposição do mais famoso filme de Abbas Kiarostami (1940-2016) esta parece semana dedicada ao suicídio nos cinemas lisboetas. Com uma importante diferença: O Sabor da Cereja, embora um pouco corroído pelo tempo e sem o fulgor de 1997, quando sacou Palma de Ouro no Festival de Cannes, tem algo que se lhe diga.
O que se mantém e continua a sustentar esta história de um homem que se quer suicidar e procura quem o enterre a seguir, é o humanismo das personagens e a substância dos diálogos que o cineasta iraniano criou para Badii (Homayon Ershadi) trocar com os homens a quem propõe a tarefa ao volante do seu carro, rodando pelos subúrbios de Teerão. Dele, não sabemos nem saberemos nada. Nem a razão do desespero ou o porquê da preocupação com o enterro. Nem interessa, pois estamos perante uma busca para encontrar razão de esperança, mesmo no interior de uma ditadura saída da idade das trevas, realizada com subtileza e elegância – e considerável dose de ingenuidade.
Por Rui Monteiro