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Vencedor do Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, O Rapaz e a Garça, de Hayao Miyazaki, regressa agora às salas. E não deverá ser a última longa-metragem de animação do realizador, como tinha sido anunciado. Este filme visualmente sumptuoso e cerradamente imaginativo, que começa no Japão em plena II Guerra Mundial e passa depois para um mundo paralelo mágico e onírico, está repleto de referências autobiográficas, bem como de reflexões e interrogações de Miyazaki sobre a sua arte e o acervo que deixa no cinema de animação. O herói é Mahito, um rapazinho filho de uma enfermeira e de um empresário que fabrica componentes para aviões de guerra, e que perde a mãe no bombardeamento do hospital onde esta trabalhava em Tóquio. Algum tempo depois, com o pai agora casado com a cunhada, que espera um bebé, Mahito vai viver com esta para uma grande casa de família no interior do país, e lá vê-se alvo das atenções de uma garça (que não é apenas um pássaro) que lhe diz que a mãe está viva. E que para a ver, o rapaz deve acompanhá-la a uma torre abandonada na qual desapareceu, muitos anos antes, o seu erudito tio-avô, que lá tinha a sua biblioteca. O Rapaz e a Garça é um filme tão opaco, falho de linearidade narrativa e desconcertante, como inventivo deslumbrante e mirabolante, e que apesar de alguns pontos de contacto, contrasta de forma radical com o anterior, e superior, As Asas do Vento. Mas se podemos pôr algumas reticências ao fundo de O Rapaz e a Garça, a forma, essa, é Miyazaki da mais pura, feérica e jubilatória – só os periquitos gigantes e obcecados por comida são todo um programa.