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É isto que acontece, quando um realizador vai buscar uma história à literatura de ficção científica, em vez de recorrer aos formulários de sci-fi que são a esmagadora maioria dos argumentos do género no cinema americano: um filme inteligente, intrigante e intrincado, com carne narrativa e miolo intelectual, que puxa pelos neurónios do espectador. O canadiano Denis Villeneuve (Raptadas, Sicário) adapta, em O Primeiro Encontro, o conto longo de Ted Chiang Story of Your Life, que ganhou os prémios Sturgeon e Nebula da categoria em 1999 e 2000, respectivamente. Louise Banks (Amy Adams), uma eminente linguista, é contactada pelo gocerno dos EUA para tentar comunicar com os extraterrestres de uma das 12 naves que pairam sobre outros tantos lugares da Terra, classificados como heptapódes, e que parecem polvos gigantes erectos com sete tentáculos Terão eles vindo para nos invadir, para pedir ajuda ou para a oferecer? O Primeiro Encontro está longe, longíssimo dos estereótipos dos filmes de “invasão alienígena” e de “primeiro contacto”.
Fiel ao essencial da obra de Chiang, embora com algumas simplificações inevitáveis no cinema, Villeneuve concentra-se na penosa tentativa de decifração, por Banks e pelo matemático interpretado por Jeremy Renner, da linguagem dos extraterrestres, que não tem o menor equivalente com qualquer tipo de linguagem humana (e que se verá possuir uma dimensão espacio-temporal e influir na existência pessoal da linguista), e da abertura de um canal de comunicação. Isto contra um pano de fundo de nervoso crescente das potências mundiais, que começam a considerar disparar contra as naves em vez de tentar perceber os seus ocupantes. Amy Adams é magnífica e Villeneuve filma com conta, peso, medida e um suspense miudinho e omnipresente.