O livro em que se baseia esta fita de John Crowley (Brooklyn) é um calhamaço de quase 800 páginas que ganhou o Pulitzer de Ficção, um bestseller de qualidade, assinado por Donna Tartt, que já foi comparada a Charles Dickens. Ou seja, O Pintassilgo é o tipo de filme que rareia no cinema americano, a adaptação de uma obra literária consensual entre um leque aberto de leitores, com boa crítica e prémios, de fôlego muito longo, cerradamente romanesca e intrincadamente elaborada. Por isso, fica entalado e sozinho algures entre as superproduções e as fitazinhas indie. E quer por ter uma história muito intrincada, quer porque entrar em muitos detalhes sobre ela implica semear spoilers, é difícil resumi-lo de forma sintética e clara.
O protagonista é Theodore Decker (Oakes Fegley na adolescência, Ansel Egort quando adulto), cuja mãe morreu num atentado terrorista no Met de Nova Iorque. Como o pai, alcoólico, se sumiu, Theodore é acolhido pela rica família de um colega de escola. E na confusão após o atentado, o rapaz levou consigo um pequeno e valiosíssimo quadro de um pintor holandês do século XVII, O Pintassilgo. Este quadro, directa ou indirectamente, vai condicionar tudo o que lhe irá acontecer.
A história de Theo, convoluta, atarefada e rica em detalhes, peripécias e personagens, é filmada por John Crowley com o maior cuidado e a melhor arrumação possível, embora o último acto, em que tudo se explica e resolve, seja atabalhoado e confuso. O Pintassilgo é como um maratonista que vai em primeiro lugar e soçobra à vista da meta. Mas até aí, que bela corrida fez.
Por Eurico de Barros