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Filmes de Natal, há-os para todos os paladares e feitios, desde os institucionais e fofinhos (De Ilusão Também se Vive, Natal Branco, Uma História de Natal, Sozinho em Casa, a série dos Santa Cláusula) até aos anti-convencionais dos mais diversos matizes, e que vão de O Apartamento, Pai Natal: Sarilhos, Assalto ao Arranha-Céus, Um Vizinho a Apagar ou O Nosso Natal, a títulos bem mais radicais como Férias Assombradas, Rare Exports ou Krampus: O Lado Negro do Natal. Há ainda aqueles de que toda a gente gosta, como Do Céu Caiu uma Estrela e O Estranho Mundo de Jack. E não esquecer as fabulosas aberrações, caso de Santa Claus Conquers the Martians ou Pai Natal: O Filme.
E depois há os OCNNI: Objectos Cinematográficos Natalícios Não Identificados, como é o caso de O Natal do Bruno Aleixo, de João Moreira e Pedro Santo, que já em 2019 haviam perpetrado O Filme do Bruno Aleixo e com ele passado o dito Aleixo da televisão para as telas. O Natal do Bruno Aleixo é assim como que uma versão completamente esgazeada e descompensada de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, com o telhudo e refilão urso Aleixo no papel daquilo que pode ser definido como uma versão portuguesa, animal e com características antropomórficas de Scrooge, com o qual tem em comum o ódio ao Natal.
Passa-se então que, em plena quadra natalícia, Bruno Aleixo vai de carro com o Homem do Bussaco e têm um acidente (culpa deles, claro). Enquanto este é mandado para casa depois de fazer alguns exames e se ter constatado que não sofreu nada, Bruno Aleixo fica internado no hospital e em coma. O seu estado vai permitir-nos descobrir a razão da enorme aversão que ele tem ao Natal, já que, em vez dos proverbiais três fantasmas do clássico de Dickens, Aleixo vai ser assombrado, numa série de sequências de animação, por várias das suas recordações natalícias traumáticas – que incluem familiares chatos, presentes decepcionantes e consoadas embaraçosas, indo da infância à idade adulta. E que nos permitem descobrir, por exemplo, que há um ramo brasileiro na família de Bruno Aleixo e que ele já foi casado com uma ursa chamada Cristina. Entretanto, todos os amigos de Aleixo, bem como o seu dedicado psiquiatra, estão suspensos do seu estado de saúde.
Seja na forma, seja no discurso, O Natal do Bruno Aleixo é totalmente fiel à identidade e ao espírito do pequeno, desconcertante, estrambólico, consideravelmente hirto e levemente entorpecente mundo cómico e nonsense de Bruno Aleixo, pelo qual circulam, além do dito e rústico Homem do Bussaco, que precisa de legendas para ser entendido (e para atenuar os palavrões que diz), um busto de Napoleão falante, um Monstro da Lagoa Negra chamado Renato Alexandre e vários humanos que convivem com tais criaturas e não as estranham de forma alguma. E como seria de esperar, O Natal do Bruno Aleixo não se conclui com uma “mensagem”, ternurenta, edificante, inspiradora ou outra, sobre o Natal ou qualquer assunto, tema ou causa que seja. Outra coisa, aliás, não seria de esperar de um OCNNI como este.