Conta quem assistiu que, quando Rudolf Nureyev esteve em Portugal pela primeira vez, em 1968, para dançar Giselle com Margot Fonteyn no São Carlos (regressaria em 1991), o bailarino não respondia aos admiradores que tentavam abordá-lo e falar com ele. No entanto, não recusava um autógrafo a ninguém. É precisamente esse o Nureyev que Ralph Fiennes capta em O Corvo Branco, o seu terceiro filme enquanto realizador, inspirado na biografia Rudolf Nureyev: The Life, de Julie Kavanagh (falando um russo fluente, Fiennes também desempenha um dos papéis principais, o de Pushkin, o professor que mais influenciou o bailarino na juventude, e cuja mulher acabou por ter um caso com ele).
Rodado na Sérvia e na Croácia, O Corvo Branco (expressão russa para definir alguém fora do vulgar) tem o bailarino ucraniano Oleg Ivenko a interpretar Nureyev de forma muito convincente, quer nos seus anos de estudante rebelde em Leninegrado, quando já impunha o seu modo de ser altivo, individualista e emocional, e o seu superior talento, quer em 1961, aos 23 anos, quando decide refugiar-se no Ocidente, em Paris, durante a digressão europeia do Ballett Mariinsky a que pertencia, para dançar e viver em liberdade. Embora com meios limitados e de forma sintética, Ralph Fiennes consegue captar a personalidade de Rudolf Nureyev e sugerir o seu excepcional dom artístico.
Por Eurico de Barros