O Barco do Amor
DRO Barco do Amor

Crítica

O Barco do Amor

3/5 estrelas
O actor e realizador Bruno Podalydès escreve, filma e interpreta um dos papéis de ‘O Barco do Amor’, uma comédia ligeira francesa como já quase não se fazem.
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A Time Out diz

Justine (Sandrine Kiberlain) trabalha, o marido, Albin (Denis Podalydès), não. Franck (Daniel Auteuil), o patrão de Justine, um empresário abastado e divorciado, pede-lhe para que organize um fim-de-semana romântico para ele e para uma mulher que admira e que quer conquistar. E passa-lhe para as mãos, assim sem mais nem menos, 14 mil euros para que ela trate de tudo. Justine e o marido têm então uma ideia. Convocam um pequeno grupo de amigos, todos sem cheta como eles, mas com talentos vários, da culinária à música. Mais importante, um deles, Jocelyn (Bruno Podalydès), está encarregue da entrega de um pequeno veleiro a motor no fim-de-semana. Planeiam então proporcionar ao patrão de Justine e à sua conquista um idílico fim-de-semana rio abaixo, e abotoarem-se com os 14 mil euros (que Justine e Franck disseram aos amigos serem sete mil…).

Esta é a premissa de O Barco do Amor, que Bruno Podalydès escreveu e realiza, além de interpretar o “comandante” Jocelyn. E é caso para dizer que foi preciso chegarmos ao fim do ano para vermos finalmente uma comédia ligeira francesa na melhor, mais digna e mais genuína linha do género. E ninguém mais indicado para o fazer do que Podalydès, que como realizador se tem revelado estar tão à vontade na comédia como no drama ou mesmo no policial. Regressados a bordo do barco do título, a identidade da mulher que o patrão de Justine revela-se uma surpresa: a própria Justine, que nunca lhe disse que era casada. Entre revelar-lhe a verdade e perder 14 mil euros, ou ir em frente com o fim-de-semana romântico, a trupe não hesita (tirando, obviamente, Albin). E o barco zarpa rumo à foz.

O tempo está bom, a nave atravessa calmamente os canais e as comportas, a paisagem é bucólica e Franck está bem-disposto e muito longe de adivinhar a vigarice, muito embora não goste nada de ter de desembolsar mais uns euros de portagem sempre que se passa uma comporta, entregues ao respectivo encarregado (um dos membros do grupo, que vai mudando de aspecto e de roupa a cada comporta). Mas nem sequer repara que as várias pessoas encarregues do programa da viagem, da condutora do camião de comida para o piquenique à beira-rio, até ao guitarrista que toca no jantar romântico a dois e à sua acompanhante vocal, são sempre os mesmos, que vão trocando de roupa, de penteado e maquilhagem, e acumulando as várias funções. Entretanto, Justine vai conseguindo esquivar os avanços do patrão. Até ao momento em que, farta das intromissões do ciumento Albin, que ameaçam que a vigarice seja exposta, tem uma birra, salta do barco para terra e deixa toda a gente – menos o incauto Franck – em pânico.

Com um título original (La Petite Vadrouille) que pisca o olho à célebre comédia de culto de Gérard Oury feita em 1966, A Grande Paródia (La Grande Vadrouille), com Louis de Funès, Bourvil e Terry-Thomas, O Barco do Amor é, e felizmente, uma comédia fora de moda. Bruno Podalydès remete, por um lado, às que se faziam em França nos anos 30, com os seus vigaristas pobres diabos e simpáticos, o seu subenredo romântico bem-comportado, a completa falta de vulgaridade e um toquezinho poético; e pelo outro, para as dos anos 70 e 80, com a sua galeria de personagens patuscas, um humor feito à base de piadas verbais, quiproquós em sucessão e gags visuais; e uma realização discreta, que deixa correr o enredo e dá espaço aos actores, permitindo que todos eles, principais e secundários, tenham os seus momentos de destaque no meio de um trabalho colectivo de grande harmonia.  

No final desta comédia que diz o que tem a dizer em hora e meia, flui tão bem como o barco do título (mesmo quando este fica brevemente encalhado a meio da história) e se resolve sem amargos de boca nem figuras ridículas para ninguém, é a personagem que menos se espera que encontra o amor, e se faz ao largo em maré alta de felicidade. O Barco do Amor garante que fechemos o ano com os olhos lavados pelas suas paisagens e um franco sorriso nos lábios posto pelos seus tripulantes.

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