Jonathan (Bruno Ganz), um emoldurador, é diagnosticado com leucemia e contempla a possibilidade de deixar a família na miséria. É o correio que Ripley (Dennis Hopper) precisava para deslocar as falsificações que negoceia através da Europa, e que, neste filme, agora restaurado, Wenders transforma em metáfora sobre as relações entre Hollywood e a cultura alemã do pós-guerra.
Há mais, claro, nesta libérrima versão do romance de Patricia Highsmith, pois o realizador, em pormenores e subtilezas do enredo, em certos planos e sequências, em certas falas e movimentos subjectivos, desafia a uma nova visão do policial. Uma visão que parece privilegiar equilibradamente entrecho e atmosfera. Para, depois, como quem não quer a coisa, favorecer a segunda e mergulhar numa abordagem narrativa que tem tanto de cinefilia como de herança do expressionismo alemão, afinal, uma recusa do realismo que atira as personagens para longe, bem longe dos limites do comportamento humanista, envolvidos por uma espécie de neblina existencial onde a ética não penetra.