Se tivEsse sido rodado nos anos 70 ou 80, Nunca Estiveste Aqui seria um filme de acção série B, pão pão, queijo queijo, interpretado por um Charles Bronson ou um Chuck Norris. Nas mãos da britânica Lynne Ramsey (Temos Que Falar Sobre Kevin), Nunca Estivemos Aqui é uma tentativa desajeitada de aproveitamento das convenções e das personagens-tipo desse género para tentar fazer um filme de “arte & ensaio”, mas que acaba por se assemelhar a um arremedo tosco e amaneirado de Taxi Driver.
Ramsey quer sol na eira e chuva no nabal, mas acaba por não ter nem um, nem outro. Joaquin Phoenix personifica Joe, um veterano do Iraque com um historial de abuso sexual quando era pequeno e que veio traumatizado da guerra (saem dois clichés com barbas bíblicas), que ganha a vida a fazer serviços violentos, usando um martelo em vez de armas de fogo (artesanal, mas nada prático). Joe é contratado por um senador cuja filha menor foi raptada para um antro de prostituição infantil situado mesmo no meio de Manhattan e que é guardado apenas por dois seguranças (a verosimilhança não é o forte da realizadora).
Joe salva a miúda e vê-se metido numa trama que de original não tem nada, e é filmada por Ramsey de forma laboriosamente ridícula e em vertigem de autocondescendência. Hirsuto e alternando entre o monossilábico e o mumblecore, Joaquin Phoenix tem uma interpretação toda ela à base de tiques de personagem torturada pelo seu passado, com a ajuda de flashbacks opacos. Ao pé disto, até o recente e inútil remake de O Justiceiro da Noite por Eli Roth e com Bruce Willis, faz boa figura.
Por Eurico de Barros