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Foge, a primeira longa-metragem de Jordan Peele, recompensava os espectadores mais atentos. É natural, por isso, que se preste atenção a todas as pequenas pistas e pormenores do seu novo filme, Nós. Quando é dito que há milhares de quilómetros de túneis por baixo dos Estados Unidos, “sem um propósito aparente”, uma pessoa retém essa informação, na esperança de que venha a ser importante. Acontece o mesmo quando aparecem uma data de coelhos enjaulados ou se lê uma passagem da Bíblia num cartaz.
No entanto, o argumento fica muito aquém do prometido, e a sua crítica feroz ao sonho americano é demasiado oblíqua. O que não deixa de ser uma desilusão, mesmo que o realizador seja magnífico a combinar comédia e terror, e os actores sejam óptimos.
Depois de um breve prólogo em meados dos 80s, em que uma miúda encontra algo de horrível na casa assombrada de uma feira popular, vemo-la já crescida, com dois filhos e um marido, a viver na mesma zona. Uma noite, o filho diz-lhe que está uma família no quintal, quando vê quatro sósias deles vestidos de vermelho, e a acção começa a desenvolver-se.
Peele dá a cada membro da família um segundo papel, e eles contorcem-se como ginastas assustadores. Lupita Nyong’o destaca-se a este nível, com a sua gémea malvada a falar numa espécie de rosnar abafado. E tudo isto é suficientemente estranho para nos distrair de uma certa falta de coesão interna, notável sobretudo quando a película se assume como o thriller de invasão em casa que realmente é. Ao contrário de Foge, nem todas as migalhas conduzem a algum lado. Ainda assim, é divertido seguir o trilho.
Por Joshua Rothkopf