Pouco sexo, muitas drogas e rock’n’roll, em versão meia-idade fanada, são o que a realizadora Susanna Nicchiarelli conseguiu empacotar neste filme sobre Christa Paffgen, isto é, Nico, quer dizer, aquela modelo que canta umas canções e depois fica a tocar pandeireta num disco dos Velvet Underground.
“A minha carreira musical começou depois dos Velvet Underground”, diz Trine Dyrholm, encarnando muito bem os 40 e muitos anos desleixados e decadentes da cantora e compositora que a vida tão maltratou sem cuidar do seu enorme talento e das suas doridas e comoventes canções. O que é verdade, pois a rapariga que Andy Warhol impôs a Lou Reed e John Cale foi, descartada essa aventura, uma criadora de música profunda e vívida, e uma intérprete que oscilou entre a dolência e o transe e a energia descabelada mais ou menos de acordo com a qualidade e a dose de heroína do dia.
A realizadora italiana escolheu acompanhar Nico no ano final da sua vida, revelando em magníficos cinzentos, mas com pouco nervo, o fundo do poço percorrido pela artista mais usada e desprezada da música pop alternativa.
Por Rui Monteiro