Crítica

Na Síria

4/5 estrelas
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A Time Out diz

Um país árabe em guerra, uma cidade em estado de sítio, uma família barricada em casa, num prédio de onde os restantes residentes já fugiram, num bairro onde o ruído dos combates é a banda sonora do quotidiano e os atiradores furtivos fazem fogo sobre quem se atrever a sair à rua.

Dentro do apartamento aglomera-se uma família, a empregada e um jovem casal com um bebé, vizinhos de um andar de cima que se vieram ali abrigar depois de a sua casa ter sido atingida por um morteiro. Quem mantém toda esta gente unida e a seguir as rotinas do dia-a-dia, apesar da falta de água e de luz,
e do funcionamento errático até ao desespero dos telemóveis e da internet, é a dona da casa, Yazan, uma verdadeira mãe-coragem. Haja alguém que a tenha, para fazer frente aos muitos perigos que se perfilam lá for a e se podem manifestar a qualquer momento e sem que ninguém o espere.

Este filme do director de fotografia belga Philippe Van Leeuw, que já trabalhou com nomes como Bruno Dumont e Claire Simon, intitula-se Na Síria, mas podia passar-se em qualquer outro país e outra cidade em convulsão bélica, tão (deliberadamente) escassas são as referências que o realizador e argumentista deixa ao espectador.

O que interessa a Van Leeuw, também autor do argumento, não é escolher lados e fazer um filme de intervenção, de “denúncia”
ou de vertente documental sobre a situação que se vive na Síria, com a câmara instalada mesmo em cima de uma actualidade em carne viva.

O que ele pretende nesta
 fita rodada em 25 dias num apartamento de Beirute, é mostrar e dramatizar o ponto de vista dos civis anónimos num cenário de guerra urbana. Civis esses que, de um momento para o outro, podem ser vítimas dos morteiros, das bombas nos automóveis, dos tiros dos snipers ou dos abutres humanos que, aproveitando o colapso geral, assaltam as casas e violam as mulheres.

Por isso, Na Síria, longe de ser virtuosamente político, é um filme de terror de alta tensão claustrofóbica e de medo sempre à flor da pele, mas sem o elemento sobrenatural, um thriller sem a envolvência policial, um monster movie em que o monstro tem muitas caras e um só nome: guerra.

De um elenco homogéneo onde ninguém falha uma emoção ou exagera um sobressalto, sobressai a magnífica Hiam Abbass, qual Anna Magnani do Médio Oriente, no papel de Yazan, que transporta na cara o mapa amarfanhado e detalhado de todo o sofrimento da personagem.

Por Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Duração:85 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Philippe Van Leeuw
  • Elenco:
    • Hiam Abbass
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