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Nesta era em que o cinema vive cada vez mais da homogeneização e de fórmulas fixas, surgem por vezes filmes verdadeiramente diferentes. E que, além disso, são muito perturbantes e incómodos, por vezes mesmo a pisar a linha do insuportável.
Na Fronteira, de Ali Abbassi – um realizador iraniano que trocou o seu país pela Suécia, e depois pela Dinamarca –, é um desses raríssimos filmes, aparentado com obras como A Parada dos Monstros, de Tod Browning, O Monstro Está Vivo!, de Larry Cohen, ou O Segredo do Cesto, de Frank Henenlotter.
Como todos estes, Na Fronteira põe em cena o feio, o monstruoso, o disforme, o repugnante, o radicalmente diferente. É um filme “fantástico realista” com um condimento de policial, que se baseia nas lendas e mitos nórdicos e suas criaturas, para contar uma história que quer ter ressonâncias na actualidade e explorar ideias como a fronteira entre homem e animal, os conceitos de belo e feio, a humanidade dos monstros e a monstruosidade dos humanos. E deve também ser o primeiro filme da história do cinema a ter cenas de sexo entre criaturas fantásticas da mesma espécie.
Detalhar a história de Na Fronteira é revelar demais sobre o filme. Digamos apenas que a sua heroína é Tina (a actriz Eva Melander, irreconhecível debaixo de uma camada de efeitos de maquilhagem), uma guarda de fronteira, feia como uma noite de trovões mas dotada de um sexto sentido que lhe permite detectar tudo o que é ilícito e também ler os sentimentos mais íntimos das pessoas. Ela irá descobrir a verdade sobre si, num filme nem sempre conseguido e verosímil, mas original e insólito o suficiente para nos ficar a assombrar durante bastante tempo.
Por Eurico de Barros