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Photograph: A24

Crítica

Moonlight

4/5 estrelas
Moonlight, candidato a oito Óscares, é a história de uma vida vivida contra tudo e quase todos
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A Time Out diz

“Há vidas que parecem ser vividas numa permanente escuridão, mesmo quando o Sol brilha ou a Lua está cheia”, escreveu o político e romancista inglês Benjamin Disraeli. Chiron, o jovem negro protagonista de Moonlight, de Barry Jenkins, que adapta a peça In Moonlight Black Boys Look Blue, de Tarell Alvin McCraney, vive uma dessas vidas, nas três fases em que o enredo se divide.

Na infância, em Miami, onde é conhecido pela alcunha, “Little”, por ser mais pequeno do que os outros, Chiron, filho de pai ausente, vive num pardieiro com a mãe, uma drogada de comportamento instável. É perseguido e brutalizado por um grupo de bullies da escola, tem apenas um amigo, Kevin, e encontra um pai substituto na figura de Juan, um traficante de droga que o abriga quando necessário na casa da namorada, Teresa (Janelle Monáe).

Já adolescente, e após a morte (supõe-se que violenta) de Juan, Chiron, agora referido pelo seu nome, continua a ter uma existência às três pancadas com a mãe, a abrigar-se em casa de Teresa e a ser a vítima privilegiada dos bullies do liceu, que forçam Kevin (com o qual teve entretanto um fugaz contacto homossexual) a trair a sua amizade, num violento ritual de intimidação. Chiron explode, retalia em força e é preso.

A terceira e última parte da fita encontra Chiron já fora da cadeia e na Geórgia, transformado num sósia de Juan, não só por traficar droga como ele, mas também fisicamente. Dá pelo nome de Black (alcunha posta por Kevin quando andavam na escola), e vive e anda sozinho. Uma noite, recebe um telefonema de Kevin. Este, depois de também ter estado na cadeia, é agora cozinheiro num diner da Florida e pai solteiro. Kevin pede-lhe desculpa pelo que lhe fez, no liceu, convida-o para vir provar a sua comida e os dois homens reencontram-se.

Apesar de se passar num meio exclusivamente negro, e de tocar no tema da homossexualidade, Moonlight não deve nem pode ser reduzido a um filme de nicho “étnico” ou de “causa” gay. Isso seria minimizar o seu alcance humano, o seu músculo dramático e o seu significado emocional. A história de Little/ Chiron/Black (interpretado por três actores diferentes) é uma dura, incerta e magoada história de entrada na maturidade, contra tudo e quase todos, onde a personagem principal anda à procura do seu lugar no mundo, do norte dos seus sentimentos e de uma identidade que passa também pela definição da identidade sexual, mas não se limita a ela.

Barry Jenkins oculta a origem claramente teatral da fita (a divisão em três actos da vida do protagonista, a orientação verbal da narrativa) filmando em cores sensuais, com uma câmara inquieta e fluida, aliada a uma imperturbável concisão elíptica, o progresso de Chiron pelo escuro, solitário e tortuoso túnel da sua vida. Até atingir um final que, embora inconclusivo, lhe traz, finalmente, alguma paz, um assomo de luz.

Por Eurico de Barros

Detalhes da estreia

  • Classificação:15
  • Data de estreia:sexta-feira 17 fevereiro 2017
  • Duração:110 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Barry Jenkins
  • Argumento:Barry Jenkins
  • Elenco:
    • Alex R. Hibbert
    • Ashton Sanders
    • Trevante Rhodes
    • Naomie Harris
    • Andre Holland
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