Dantes, as crianças que se portavam mal recebiam no sapatinho, como castigo, um pedaço de carvão em vez de brinquedos. Ficavam tristes, choravam baba e ranho e prometiam portar-se melhor, para no Natal seguinte voltarem a ter presentes bonitos. Em Missão: Vingança, de Eshom e Ian Nelms, Billy Wenan, um rapaz de 12 anos rico, despótico, insuportavelmente mimado, com um pai ausente e que vive com a avó doente, recebe um bocado de carvão no Natal, e não faz a coisa por menos. Decide vingar-se e contrata um assassino profissional para descobrir onde vive o Pai Natal, ir lá matá-lo e trazer a cabeça do bom velhinho como troféu. (Billy também recorre ao dito assassino para aterrorizar colegas da escola.)
Este é apenas um dos aspectos mais sinistros de Missão: Vingança, que pretende ser uma comédia negra natalícia, mas mais não é do que um dos filmes de Natal mais desastrada e desagradavelmente grosseiros e infelizes já feitos. O Pai Natal (Mel Gibson) está desanimado, decadente e enfraquecido, porque a existência de cada vez mais crianças malcomportadas traduz-se em cada vez menos presentes, uma queda de produção na fábrica e uma situação financeira catastrófica. A crise é tão grande que ele e a mulher, Ruth (Marianne Jean-Baptiste), têm que se resignar a ceder às tentadoras propostas do governo e pôr os elfos a produzir material militar em vez de brinquedos (o único gag decente de toda a fita envolve precisamente os elfos, os seus hábitos alimentares e o menu da cantina da fábrica).
Entretanto, o assassino profissional (Walter Googins) vai deixando um rasto de cadáveres à medida que se aproxima da casa e da fábrica de brinquedos do Pai Natal, algures no Canadá. Uma vez lá chegado, começa a massacrar os militares que as protegem, tenta destruir as instalações com explosivos, deixa os elfos em polvorosa e protagoniza um sangrento duelo a tiro com aquele, deixando-o por morto e alvejando também a mulher. Como se tudo isto não bastasse, o jovem Billy tenta envenenar a avó, mas a intervenção atempada de um Pai Natal mais escalavrado do que Sylvester Stallone no final de um dos filmes da série Rambo, e tão ameaçador como o próprio John Rambo, impede o pior.
O que quer que os irmãos Nelms queriam fazer em Missão: Vingança (Fatman, no original), falharam em todas as declinações. Na ideia de história que a ele preside, na forma e no discurso, na intenção da “mensagem”, na violência verdadeiramente gratuita e totalmente autocomplacente, e da primeira à última imagem, este é um filme de um lamentável, incomensurável e insondável mau gosto. Está destinado a constar em todas as futuras listas de horrores cinematográficos com tema natalício. Até temos pena dos actores envolvidos, Mel Gibson à cabeça, que vão ficar para sempre com uma nódoa destas nas suas filmografias.
Se fosse um acidente, Missão: Vingança era uma colisão em cadeia numa auto-estrada em dia de chuva e hora de ponta. E se o Pai Natal existisse mesmo, Esholm e Ian Nelms passavam a ter no sapatinho, para o resto das suas vidas, fruta podre, baratas e arame farpado.