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Continua a existir um romantismo associado às vidas à deriva. Àquelas pessoas que escolheram, ou a quem foi imposta, uma existência nas franjas da sociedade organizada, desligada das suas rotinas, obrigações, convenções e burocracias.
Esse romantismo, disfarçado de naturalismo, manifesta-se em Milla, de Valérie Massadian, a autora do simpático e poético Nana (2011). Milla (Severine Jonckeere) e Leo (Luc Chessel) vivem de pequenos furtos, na rua ou em casas devolutas, mesmo quando Leo consegue trabalho num barco de pesca porque Milla está grávida. Não têm água, luz, gás nem electrodomésticos, mas têm amor, carinho e cumplicidade.
Um dia, Milla fica sozinha e é como se este filme já de si ténue se evaporasse. Valérie Mairesse passa a registar o dia-a-dia da protagonista, na gravidez e depois com o filho, como se estivesse a fazer home movies. Não há acção propriamente dita, nem voltagem dramática nem conflitos, apenas registos banais do quotidiano de uma mãe e do filho pequeno. Um vazio narrativo, que traz consigo um espesso tédio. Milla é só meio filme.
Por Eurico de Barros