Vive em Versalhes, o seu nome é daniel mas no liceu chamam-lhe Micróbio porque é mais pequeno que os outros miúdos da sua idade. Mora numa vivenda com o pai, a mãe e um irmão mais velho que quer ser músico punk e tem um fraquinho por uma colega de turma.
Um dia, à porta da escola, Micróbio (Ange Dargent) conhece o guedelhudo Théo (Théophile Baquet), apelidado Gasolina, um engenhocas que anda numa bicicleta equipada com um gadget à Professor Pardal que faz barulhos vários, e que fala por vezes como se fosse um adulto. Théo vive com a mãe, que sofre de obesidade mórbida, e o pai, um tipo brusco e resmungão que tem uma loja de bugigangas.
Os dois colegas, pouco dados a andar metidos em grupos, travam amizade instantaneamente. E comoasfériasdeVerãoestão mesmo à porta, têm uma ideia mirabolante: construir um carro usandoomotordeumcorta- -relva,disfarçá-locomaestrutura de uma casa de madeira e partir à aventura pelas estradas de França (sem os pais saberem, claro está.)
Realizado por Michel Gondry, Micróbio e Gasolina faz figura de soufflé depois do cozinhado elaborado e indigesto que foi o último filme do realizador francês, A Espuma dos Dias, uma adaptação do livro de Boris Vian.
Em comum, os dois filmes têm apenas a presença de Audrey Tautou, que em Micróbio e Gasolina interpreta a mãe caixa-de-óculos de Daniel. Em tudo o resto, Micróbio e Gasolina é um filme infinitamente superior àquele, e também o melhor de Gondry desde Por Favor Rebobine (2008), e que voltou a filmar em França.
Não fossem dois ou três adereços contemporâneos, caso dos telemóveis, e Micróbio e Gasolina podia ser um filme saído direitinho dos anos 70 ou 80. E isto graças ao seu espírito de banda desenhada adolescente, à sua atitude individualista simpática e nunca forçada, ao seu humor excêntrico, à sua poesia alegremente gazeteira, à maneira como foge à formatação dos teen movies e à forma simples, afectuosa e certeira como Gondry caracteriza e filma a amizade entre dois miúdos um pouco outsiders, mas sem querelas de maior com o mundo.
E até no final Michel Gondry resiste ao sentimentalismo, porque por um amigo a sério, faz-se tudo, até mesmo perder a colega de turma por quem se tem um fraquinho.
Por Eurico de Barros