A desvairada história de amor (“amor” não será um termo muito adequado, mas siga) entre Tony (Emmanuelle Bercot) e Georgio (Vincent Cassel) não segue um arco narrativo rigoroso, e o crédito para que este relato não surja convenientemente trancado vai para Maïwenn, realizadora e co-argumentista, e para Etienne Comar, o outro argumentista.
Do primeiro encontro às primeiras saídas, da cama (e da mesa da cozinha do restaurante) à atípica festa de casamento, o caso de Tony e Georgio é violentamente apaixonado. Só que através da narrativa paralela, situada no presente, num centro de reabilitação onde Tony reaprende a caminhar após ter desfeito um joelho num acidente de esqui com ar de tentativa de suicídio, percebe-se que entretanto algo correu muito mal. Georgio é viciado na boémia e em intoxicantes, e o choque entre estilos de vida trepa quando Tony dá à luz.
Não obstante a personagem de Vincent Cassel ser uma espécie de pulha imprevisível com queda para a chantagem psicológica e legal, a relação exposta em Meu Rei é complexa, dura, sem linhas éticas ou de lisura de carácter especialmente definidas. O segredo está na ambiguidade bem sustentada. Nisso e no desempenho superlativo de Emmanuelle Bercot.