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Em 2017, o realizador francês Christian Carion rodou um policial, Mon Garçon (inédito em Portugal), em que o filho de sete anos de um homem divorciado desaparece e o pai vai à procura dele, descobrindo que foi raptado por uma rede de pedófilos. Mon Garçon tinha a particularidade de o actor principal, Guillaume Canet, tal como a actriz que interpreta a ex-mulher, Mélanie Laurent, não conhecerem a totalidade do enredo, estando apenas de posse de alguns detalhes da história, e irem-na descobrindo à medida que a rodagem da fita decorria, reagindo espontaneamente aos acontecimentos e recorrendo à improvisação. As filmagens duraram apenas seis dias.
O filme teve algum sucesso de público e de crítica em França e nos EUA, o que levou Christian Carion a repetir a receita, agora na Grã-Bretanha, com Meu Filho (My Son, no original), rodado na Escócia e agora com James McAvoy e Claire Foy nos papéis principais. Todos os actores de Meu Filho, menos McAvoy, conheciam o argumento, tendo este que depender da sua capacidade de improvisação para manter a história a andar. Ele é Edmond Ray, um homem que trabalha na indústria do petróleo, o que o obriga a estar longos períodos de tempo fora de casa. Joan, a mulher, fartou-se disto e separou-se, conseguindo a custódia de Ethan, o filho pequeno do casal, e acabando por arranjar outro companheiro.
Um dia, Ethan desaparece quando estava num acampamento nas Terras Altas da Escócia. A polícia toma conta do caso, mas Edmond, desesperado, começa a investigar por seu lado e percebe que o menino foi raptado. Tendo em conta a situação de total ignorância dos factos em que James McAvoy se encontra, é preciso que a história de Meu Filho não seja complexa, para que a personagem principal a resolva, e quer esta, quer o espectador, não perca o norte durante a narração. Isto tem como consequência um enredo transparente como uma folha de papel vegetal e completamente previsível, o que compromete o suspense e a tensão que Christian Carion pretende instalar. Edmond poderá ir de surpresa em surpresa, e de revelação em revelação, mas não nós, que já percebemos para onde e como a história vai. O efeito de simultaneidade da descoberta para personagem e público falha.
Percebe-se que, enquanto actor, James McAvoy possa ter achado a premissa de Meu Filho interessante e desafiadora. Mas ela é-o muito menos para o espectador, quer a conheça, quer não, tal a fragilidade e a linearidade da trama posta em cena por Carion, também autor do argumento, com Laure Irrmann. Meu Filho é uma espécie de parente pobre dos filmes da série Busca Implacável, com Liam Neeson, feito sem rede e com James McAvoy no lugar de Liam Neeson e às escuras sobre o que se está a passar (e talvez nem tanto, porque o actor deve certamente ter visto o filme original).
A primeira parte da fita funciona aceitavelmente, quando a história acabou de ser lançada, Edmond ainda está em contacto com a polícia e começa a ser tomado pelo desespero, o que o leva a perder as estribeiras quando vai falar com o actual companheiro da mulher, acabando por desconfiar dele e agredindo-o. Christian Carion instala um clima de incerteza e de aflição que passa para o espectador. A partir do momento em que começa a rolar nos carris do thriller e abraça as suas convenções, e James McAvoy passa a carregar todo o peso emocional e dramático da ténue intriga, Meu Filho fica muito mecânico e o dispositivo em que assenta torna-se irrelevante. Apesar dos méritos do actor, da ênfase musical da banda sonora de Laurent Perez Del Mar e da beleza agreste das paisagens escocesas.