Crítica

Memórias de Marnie

5/5 estrelas
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A Time Out diz

Na primeira vez que Anna interage com Marnie há um movimento da personagem que é característico nos filmes do Studio Ghibli. Anna entra num barco que a transporta para a outra margem do lago, onde fica a mansão que Marnie habita, e à medida que se aproxima do destino perde o controlo do barco e Marnie grita para lhe atirar a corda de forma a controlar o impacto. Quando Anna atira a corda há o tal movimento, um pormenor, mas que coloca o espectador naquele lugar de fantasia entre a infância e a idade adulta e a resolução impossível – mas que os filmes Ghibli tornam possíveis – de muitos problemas à volta do existir.

Anna não está no seu território. Está a passar uma temporada na casa de familiares dos pais adoptivos para tratar da asma. É uma rapariga que se isola, em parte porque estar sozinha faz parte da sua essência. Os familiares mais próximos morreram e foi entregue a uma família que sabe que a ama mas que não é a sua. Naturalmente esse seu desejo de solitude, a dificuldade em relacionar-se com outros, de se fascinar com aquilo de que os outros têm medo, não é estranho.

É aqui que surge Marnie, a amiga imaginária. A rapariga que vive numa mansão perto de um lago e com a qual Anna começa a viver uma série de aventuras e a entrar na vida da sua amiga imaginária. E à medida que a história avança (e não é preciso muito), percebe-se que Marnie existiu mesmo, mas não se sabe a especificidade da sua história.

A relação entre as duas é fascinante. E é também fascinante a forma como Anna se vai comprometendo à forma como encara essa relação. Por exemplo, quando conhece e menina que agora vive na mansão que anteriormente pertencia a Marnie e lhe diz que ela nunca existiu, que é uma amiga imaginária sua. Por momentos até convence o espectador disso, de que tudo, até a realidade de Marnie, é fruto da sua imaginação.

Progressivamente, Memórias de Marnie vai entrando mais a fundo na psique humana e chega a rondar alguns escritos de Oliver Sacks sobre a forma como o cérebro guarda certas memórias de bebé a que regressa, ou as relembra e as transforma, no futuro. Apesar da componente amiga imaginária, este é um filme muito terra-a-terra do Studio Ghibli e uma excelente segunda obra de Hiromasa Yonebayashi, que após anos nos bastidores do Ghibli se revelou com o também magnífico O Mundo Secreto de Arrietty. E, caramba, é preciso muito talento para construir uma relação tão adorável, marcada por um final que começa por ser muito triste e se torna muito bonito.

Detalhes da estreia

  • Classificação:U
  • Data de estreia:sexta-feira 10 junho 2016
  • Duração:103 minutos

Elenco e equipa

  • Realização:Hiromasa Yonebayashi
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